
Estreou Das Selvas do Brazyl no teatro do CCBB-RIO 1.
A idealização é de Gustavo Gasparani.
O texto de Pedro Kosovski mescla realidade histórica e ficção, é crítico, reflexivo, relacional, retrospectivo, protagoniza a floresta amazônica, sublinha a diversidade das espécies vegetais, animais e humanas da região, ancestral, humanista, conservacionista, sensível e emocionante.
O texto contribui para a difusão da memória da expedição científica, muitas vezes desvalorizada e ameaçada de se perder, sublinhando a associação pouco conhecida de dois homens de Estado, o ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt Jr. (1858-1919) e o marechal brasileiro Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958). A partir desse resgate, o autor busca imaginar quais as ações e os empreendimentos que realizaram, bem como os diálogos que estabeleceram, seus pontos de vista, como também solucionar impasses históricos como a inserção do nosso país no processo civilizatório, as marcas da colonização, e o imperialismo norte-americano. Quem ganha é a floresta, vista como uma construção social, produto de milhares de anos de manejo e cooperação entre as populações que lá residem e o mundo natural existente. O autor a coloca como a grande protagonista, ainda mais no momento contemporâneo, quando os desastres ambientais, queimadas e aquecimento global estão no centro das grandes discussões. E a floresta ganha centralidade.
O texto expõe as diferenças entre os dois personagens, deixando transparecer os debates, as divergências e tensões. As relações foram conflitantes. Contudo, há algo que os une: a ideologia do processo civilizatório, do progresso e do desenvolvimento.
O elenco é constituído por Gustavo Gasparani e Isio Ghelman. Os dois têm uma atuação de qualidade e digna de elogios. Eles estão unidos, entrosados, e afinados. Eles interpretam corretamente, e emocionam também. Gustavo Gasparani faz um Rondon militar pacifista, nacionalista, que deseja integrar o indígena à nação brasileira e implementa a instalação da rede de telégrafos na Amazônia. Por sua vez, Isio Ghelman faz um Thedore Roosevelt que se julga superior, etnocêntrico, colonizador, arrogante, que admira a paisagem natural, mas não consegue enxergar o indígena. Os dois dominam o texto, estabelecendo bons diálogos e apresentando uma boa retórica; dominam o palco, apresentando uma movimentação intensa e preenchendo todos os espaços. Estabelecem uma boa comunicação com o público. Portanto, uma atuação correta e adequada.
A direção de Daniel Herz realizou as marcações precisas e certeiras dando uma diretriz à correta apresentação dos atores.
Os figurinos criados por Wanderley Gomes primam belo bom gosto, combinação de cores (uniformes cinza e telha), e facilitam a movimentação dos atores pelo palco.
A cenografia criada por Dina Salem Levy é criativa, utiliza materiais simples e rústicos que caminham na direção da originalidade, e, apresenta uma boa disposição dos elementos pelo palco.
A cenografia é constituída por diversos caixotes de madeira, que remetem aos containers que guardavam os mantimentos da expedição; elementos sanfonados de madeira que remetem as torres de telégrafos instaladas por Rondon; plástico verde imenso como a floresta; cordas, entre outros.
Os atores estabelecem com o imenso plástico verde, grande como a floresta, uma interação intensa. Eles passam grande parte do tempo sobre o mesmo, atuando e interpretando, se deitam sobre o mesmo, e, inclusive, se cobrem com o mesmo.
A Iluminação de Aurélio de Simoni é boa, adequada, e contribui para realçar a interpretação dos atores de seus personagens.
A trilha sonora criada por Marcello H apresenta os sons da floresta, o canto dos pássaros, o som do volume das águas, nos levando mata a dentro, numa sonoridade agradável. Além da música Melodia Sentimental, de Heitor Villa-Lobos, e Dora Vasconcelos, corretamente cantada por Gustavo Gasparani.
Das Selvas do Brazyl é uma peça teatral cujo texto realiza o resgate importante da memória da expedição científica que mapeou o Rio da Dúvida realizada por Roosevelt em companhia de Rondon; dois atores de qualidade e com atuações corretas e adequadas; e, cenografia, figurinos e iluminação que formam um conjunto harmônico e equilibrado.
Excelente produção de artes cênicas!