
Essa semana a minha convidada é a embaixatriz e escritora Maria Christina Lins do Rego Veras, filha do grande escritor José Lins do Rêgo (1901-1957). No auge de seus 92 anos, ela se prepara para lançar “Lembranças Passageiras”, que nasceu durante o período de confinamento da pandemia. “O livro não chega a ser um diário, um livro de memórias nem um relato de viagem”, como ela explica, mas uma obra de grandes recordações – e olha que são inúmeras e maravilhosas. Além disso, em nossa animada e afetuosa conversa ela nos fala de suas experiências em capitais europeias, do legado de seu pai e, claro, de projetos futuros. Confira!
JP – Olá Maria Christina! Você poderia apresentar algumas considerações sobre a obra “Lembranças Passageiras” que você irá lançar em breve?
Durante o período da pandemia, me vi confinada em meu apartamento, esse momento de “desaceleração” me deu a oportunidade perfeita para ir me lembrando dos momentos maravilhosos de minha vida como esposa de diplomata. Uma vida corrida e atribulada, mas que também me deu a oportunidade de conhecer pessoas e lugares excepcionais. A medida que essas recordações vinham a mente, eu pensei, porque não compartilha-las? Com essa ideia na mente, eu comecei a anotar todas as recordações que me vinham à mente. Selecionei os melhores textos e foram esses textos que deram origem ao meu novo livro.
JP – Quais são os principais temas tratados na obra?
O livro não chega a ser um diário, um livro de memórias nem um relato de viagem. Com o meu marido era diplomata, ele era obrigado a, de tempos em tempo, assumir um posto em outro país, com isso éramos obrigados a mudar de país com certa frequência. Se por um lado isso poderia ser visto como um inconveniente, essa situação me deu a oportunidade conhecer cidades muito interessantes como Nova Iorque, Helsinque, Milão, Bucareste e a minha amada Nairóbi.
JP – Como foi a sua experiência em Atenas e Helsinki, capitais europeias?
Cada uma das cidades que visitei tinha seus atrativos próprios. Nova Iorque tinha uma vida cultural intensa com seus museus, galeria de arte e teatros. Em Helsinque conheci o Ministro Kekkonen, um exemplo de solidariedade com a população. Em Atenas, as ruinas são construções fantásticas. Em Nairóbi, uma das cidades mais agradáveis que morei, com pessoas maravilhosas.
JP – A partir da sua experiência, o que marca a diferença entre o viver numa capital europeia e o de uma capital brasileira?
Cada cidade tem seus problemas e seus encantos, todos os lugares onde eu residi foram marcantes para mim.
JP – Qual foi o legado do seu pai, o literato José Lins do Rego, para a sua trajetória como escritora?
Sempre tive receio de uma possível avaliação do meu pai e da possível e comparação dos meus textos com as obras-primas de meu pai. Só comecei a escrever muito recentemente, quando fui levar meu filho, que foi a Paraíba, fazer uma exposição de quadros, no Museu Jose Lins do Rego e em seguida levei-o para conhecer a praia onde ia quase todos os anos a partir dos oito anos de idade, na casa de meu avô Massa. Levei um susto com a situação das construções que eu recordava de minha infância. A visão de decadência das construções de minha infância serviu de inspiração para o meu primeiro livro “Cartas para Alice”, que dos meus livros, continua a ser o meu preferido.
JP – No conjunto da obra literária paterna, quais são as produções você mais destaca?
Gosto de todas as obras de meu pai, mas eu destacaria “Fogo Morto”, que para mim é uma obra prima.
JP – No âmbito da literatura brasileira, quais são os seus autores preferidos?
Depois de meu pai, eu acho Guimarães Rosa formidável, também admiro muito os textos de Machado de Assis.
JP – Quais são os seus projetos futuros?
Com noventa e dois anos, com os contratempos naturais que a idade traz, eu me contento em aproveitar a vida ao máximo na medida do possível. Adoro ir ao cinema, uma das coisas que mais adoro, e assistir a cursos online.
Foto Marco Rodrigues