
Milton Nascimento encurtou caminhos. Na travessia comum entre Rio e São Paulo, revelou-se um eco inédito vindo de Minas, presenteando o país com um horizonte belo de novas possibilidades sonoras. Junto de seus parceiros do Clube da Esquina, um dos mais importantes conjuntos musicais do país, exprimiu sentimentos que iam muito além do bairro onde cresceu. Sua formação musical impecável segue como referência, guiando aqueles que ensaiam os primeiros acordes muito além de Minas Gerais. Milton é um filho adotivo que adotou um país inteiro e fez sua voz transbordar pela América do Sul. Ensinou que instrumentos não tocam idiomas. E, assim como Villa-Lobos, apresentou ao mundo a melodia poética do som do trem.
Disponível no Globoplay, Milton Bituca Nascimento homenageia esse tesouro da arte brasileira, idolatrado em diversos países. Nas falas de Herbie Hancock, Paul Simon e Quincy Jones, amigos de décadas, Nascimento é apontado como um dos principais expoentes do continente. Do jazz à bossa nova, suas harmonias o destacaram entre os nomes que dialogam com os mais variados gêneros. E Criolo, Mano Brown e Djavan estão entre os que dissertam a respeito de suas composições e de como sua voz, mesmo em canções sem letra, os impactou.
Flávia Moraes dirige um impecável documentário biográfico sobre um personagem fundamental para a nossa cultura. Um gigante que fez de sua esquina um lugar possível de se ver de qualquer parte do mundo e que se despediu dos palcos em 2022, numa última sessão de música emocionante. Sua origem, seus parceiros e suas impressões pessoais sobre o que viveu até aqui, ao longo de 83 anos, são apresentados numa linha do tempo não linear e comovente, narrada por Fernanda Montenegro. Uma belíssima homenagem às mais de seis décadas de carreira de Bituca, como é chamado pelos íntimos e por todos nós.






