
No cotidiano do flagrante constante de tudo, é impossível não refletir sobre como teria sido o noticiário de algumas tragédias recentes. Pretérito aos smartphones e às redes sociais e parte de um compilado de casos que chocaram o país na primeira década dos anos 2000, o sequestro da jovem Eloá Pimentel se impôs diante de outros eventos por conta de uma sucessão de absurdos. Questionamentos a respeito da estratégia da polícia e da atuação da imprensa marcaram mais de cem horas de cárcere da adolescente que morreu no hospital dias depois. Surpreendida em casa com amigos por Lindemberg Alves, um ex-namorado que não aceitava o fim do relacionamento, Eloá sofreu por dias nas mãos de um homem que foi tratado como alguém “muito apaixonado” em programas “jornalísticos”, embora a polícia soubesse, desde o primeiro contato, que ele não hesitaria em usar a arma que tinha. Passados dezessete anos, os dias de apreensão da família que acompanhou pela TV o reality show que se tornou essa desgraça, ganha um documento detalhado a respeito dos momentos mais tensos. Se ocorresse nos dias de hoje, esse caótico episódio seria, certamente, uma live interminável.
A produção original da Netflix, Caso Eloá – Refém Ao Vivo, traz diante das câmeras pessoas que viveram, de perspectivas distintas e de perto, toda a tensão e angústia do sequestro que suspendeu pautas e se tornou onipresente nos noticiários brasileiros. Negociadores e repórteres que acompanharam o caso desde os primeiros dias, assim como familiares da vítima, relembram como esse drama parou o país e colocou um conjunto habitacional da cidade de Santo André, na região metropolitana de São Paulo, nas telas 24 horas por dia. A decisão da polícia que permitiu que uma das vítimas, Nayara Rodrigues, que já havia sido libertada, regressasse ao apartamento, é contestada até hoje. Assim como entrevistas com o sequestrador feitas por ligações telefônicas durante o cárcere e transmitidas pela TV. Colegas de profissão de emissoras que agiram da mesma forma ainda apontam o dedo uns aos outros. E especialistas em segurança pública, por sua vez, analisam as atitudes dos que estavam à frente das negociações.
Eloá Pimentel morreu aos 15 anos depois de ser atingida com dois tiros disparados pelo sequestrador, no momento em que a polícia invadiu o apartamento em que estavam. Sua melhor amiga, Nayara, foi alvejada pelo mesmo, com um tiro no rosto.
Lindemberg teve toda a atenção que um autor desse tipo de crime deseja, enquanto manteve a adolescente sob a mira de um revólver. Ele foi condenado a 98 anos de prisão e hoje cumpre pena em regime semiaberto._





