
Minha convidada dessa semana é a atriz Virgínia Martins. Formada pela CAL desde 2006. Em 2025 realizou de forma independente 3 temporadas de sucesso do seu monólogo “Para onde vai o silêncio da queda”, o qual é idealizadora, produtora e co-dramaturga. Atuou em 20 peças, com diferentes processos criativos, participando de festivais de teatros e circulações. Já foi dirigida por Adriano Garib, Estela Miranda, Camilla Amado e integrou a Artesanal Cia. de Teatro. No cinema atuou no curta metragem Sitiados onde foi protagonista, com Babu Santana e Milhem Cortaz no elenco. Participou de programas no Multishow; de novelas como: Malhação, Avenida Brasil e A Favorita e Dona de Mim, na TV Globo. Soma-se o total de 12 trabalhos no audiovisual. Desde 2013 é colaboradora na rede de artistas Brecha LABo., liderada por Patrick Sampaio. Com um currículo desse, lógico que nosso papo foi animado e interessante. Confira!
JP – Olá Virginia! Você vive um momento de expansão na carreira. No ar com uma participação na novela Dona de Mim, da TV Globo. E você se prepara também para retornar à cena com o espetáculo autoral Para onde vai o silêncio da queda. Qual é o balanço que você faz desse momento da sua trajetória?
Percebo que estou me reposicionando no mercado como atriz. Não foi proposital e calculado, mas é isso que está acontecendo. O que me moveu e me move pra essa peça é um lugar muito genuíno de cura das dores de tantos desencontros amorosos. E foi uma ironia linda do destino na novela eu ser dona de uma loja de noivas e no teatro estar desconstruindo o amor romântico. Uma coincidência maravilhosa! O balanço que faço é de pura gratidão! Eu mesma criei e materializei a realidade de ocupar um espaço de protagonismo no teatro. Encarar um monólogo de forma independente, sendo a idealizadora, produtora e co-dramaturga não é nada fácil. E ter sido chamada pra uma participação que deu uma rendida legal, foi muito gratificante! A sensação que tenho é de estar muito pronta. Madura e com resiliência em dia. Lutei muito pra chegar no lugar de maturidade interna que eu cheguei, como pessoa, como atriz…O balanço é extremamente positivo =)
JP – Como surgiu o projeto teatral Para onde vai o silêncio da queda?
Em 2016, na noite do meu aniversário de 30 anos. Um boy que eu estava ficando na época foi embora no meio da festa, do nada. Aquilo me machucou muito. E tocou num trauma de várias outras dores. E ali eu prometi pra mim mesma que nunca mais deixaria um homem fazer isso comigo. Que ali, naquele dia, nascia uma nova mulher. Eu já estava fazendo parte de um coletivo de artistas e decidi inserir essa questão numa cena, que virou uma performance de 3 horas. Apresentei esse monólogo que na época tinha 15 minutos e repetia em looping, numa ocupação artística que realizamos em novembro de 2016. Eu tinha uma inspiração na cantora Adele e na atriz Mônica Martelli, que pegou os percursos amorosos e fez sucesso com eles, rs! Ali nascia a personagem desta peça, que representa um processo de cura das dores de tantos desencontros amorosos e que venho desdobrando e aprofundando até hoje.
JP – Qual é o tema central da peça?
O amor! A falta de amor, amadurecimento emocional e letramento afetivo que atravessa nossa sociedade. Os desencontros amorosos, a solidão contemporânea e dificuldade de aprofundar os vínculos e afetos. E o quanto nós mulheres muitas vezes negociamos o inegociável pra estar numa relação. É identitário pra mulher ser escolhida por um homem e estar numa relação. Isso é uma construção social. Do mesmo jeito que foi construído, podemos também desconstruir. Essa é minha proposta. Através da reflexão que a peça propõe, convidar nós mulheres a ocuparmos novos lugares dentro de nós mesmas, da nossa subjetividade e lugar de mais intimidade. Afinal, para onde vai o silêncio da queda, das repetidas dores do coração partido? Uma peça-cura para todas, todos e todes, e consequentemente pra mim também, claro. Desde que essa peça estreou a minha vida tem mudado muito. De dentro pra fora. E tenho manifestado coisas maravilhosas. A peça é sobre ancestralidade, a dor do coração partido e relacionamentos abusivos. E hoje pra mim ela é um ato poético/estético de exposição de feridas e vulnerabilidades. Me exponho muito em cena e ouvi uma frase maravilhosa de um jornalista que assistiu a peça 3 vezes: “ quanto mais particular uma história, mais universal ela é”. Isso me abriu um portal e me deu uma nova perspectiva sobre a peça.
JP – Quando você começou a se interessar em ser atriz?
Desde sempre! Desde muito criança dublava Sandy E Jr., Chiquititas, Spice Girls… E fazia piano, canto, ballet e minha primeira peça foi aos 13 anos, como protagonista. Isso tudo na Bahia. Eu assistia crianças atuando na TV e ficava sonhando em fazer o mesmo. Sou de uma cidade muito pequena no interior da Bahia, com mais ou menos 20 mil habitantes e 1 rua asfaltada. Era a referência que tinha do que era ser atriz. Me interessei de cara. Sempre fui muito extrovertida e não me incomodava falar e me expressar em público.
JP – Como se deu a sua formação como atriz?
Aos 14 anos mudei para Salvador e fiz cursos de teatro lá. Mas foi com 17 que me mudei para o Rio e comecei a CAL. Amei! Me encontrei nos exercícios corporais, catárticos e também os ensaios e repetição. Amo o processo criativo e as descobertas do dia a dia de aula de ensaio. Logo comecei a fazer peças profissionais e ampliei muito meu repertório. Fui introduzida no teatro de máscaras, manipulação de bonecos e teatro-performance com instalação sonora. Além de ter feito peças infantis, comédia e processos criativos colaborativos. Somam-se mais de 20 peças e 12 trabalhos no audiovisual, que foram essenciais pzra minha formação como atriz.
JP – Quais são as suas principais referências (teóricas e práticas)?
Se pudesse resumir em 1 pessoa seria a diretora, dramaturga e artista que admiro nível máximo: Christiane Jatahy. Com ela aprendo teoria, prática e muito mais. Ela pra mim é referência de artes cênicas.
JP – Quais são as dicas que você poderia dar para uma atriz que está em início de carreira e quer crescer na área?
Vá muito ao teatro! Consuma o teatro. Eu vejo 4 peças por semana, quando estou no meu ritmo normal. É o melhor aprendizado. Sem contar que é um ato político! Nada melhor do que colocar em prática o amor à arte, consumindo cultura!
JP – Quais são os seus projetos futuros?
Muitas apresentações de “Para onde vai o silêncio da queda”! Essa peça precisa ser vista ainda por muitas pessoas. Ir pra Bahia, São Paulo e tantos outros lugares. Já estou batalhando muito por isso! E quem sabe ir conquistando meu espaço no audiovisual… Sinto como um sonho possível. Uma paixão que tá nascendo. Porque o meu amor pelo teatro é muito consolidado e me sinto muito íntima. Sonho em construir esse sentimento dentro de mim na TV, cinema e streaming, a partir da materialização de trabalhos nessas áreas. Sempre conectada com minha criança que dublava Sandy e Jr e desde cedo sabia sua missão nesse mundo: tocar corações e transformar, a partir do meu corpo e brilho. Ser pura presença encarnada em tudo o que faço!





