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Por Henrique Pinheiro – Economista e produtor executivo de cinem .Meu pai, João Pinheiro Neto, ex-ministro do Trabalho no governo Jango e ex-superintendente da Reforma Agrária, Supra, completaria 97 anos, no dia 4 de dezembro.
A saudade é diária e profunda, mas não posso deixar de imaginar o quanto ele estaria triste e decepcionado com os rumos que o Brasil tomou.
Às vezes me pego pensando que, se por acaso, ele pudesse ressuscitar por um único dia e lesse as notícias do jornal, tenho a impressão de que, apesar de toda sua vitalidade, não teria vontade de voltar.
Imagino seu semblante ao presenciar a recente tentativa de golpe ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023, dias depois da posse do presidente Lula.
Imagino seu semblante ao presenciar a recente tentativa de golpe ocorrida no dia 8 de janeiro de 2023, dias depois da posse do presidente Lula.
João Pinheiro Neto, que foi cassado logo na primeira leva após o golpe de 1964, pelo Ato Institucional nº 1, junto com Jango, Brizola e tantos outros nomes que carregavam, cada um, à sua maneira, projetos para um país mais justo. Meu pai foi preso e levado à Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói, onde ficou incomunicável por dias, sem que a família soubesse onde ele estava.
O silêncio era mais cruel que as grades.
Seria doloroso para ele ver seu estado natal, Minas Gerais — outrora tão decisivo na vida política do país — carregando hoje uma dívida impagável e vivendo sob um governo sem brilho e sem esperança.
Seria doloroso para ele ver seu estado natal, Minas Gerais — outrora tão decisivo na vida política do país — carregando hoje uma dívida impagável e vivendo sob um governo sem brilho e sem esperança.
Minas, que gerou governantes e estadistas do porte de João Pinheiro, seu avô, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, Juscelino Kubitschek, Israel Pinheiro, seu tio, e Tancredo Neves. Nomes que moldaram a República e ajudaram a construir um Brasil que parecia vocacionado a crescer. Hoje, esse mesmo estado parece ter perdido sua voz, sua ambição e sua vocação de liderança.
Ele também se entristeceria em ver que a reforma agrária, causa que lhe custou tanto e pela qual lutou ao lado de Jango, permanece inacabada. Sessenta anos depois, continua sendo uma promessa distante, adiada, renegociada, esvaziada. Meu pai acreditava profundamente na força da classe média rural, na democratização do acesso à terra e no desenvolvimento social como motor do progresso.
Ele também se entristeceria em ver que a reforma agrária, causa que lhe custou tanto e pela qual lutou ao lado de Jango, permanece inacabada. Sessenta anos depois, continua sendo uma promessa distante, adiada, renegociada, esvaziada. Meu pai acreditava profundamente na força da classe média rural, na democratização do acesso à terra e no desenvolvimento social como motor do progresso.
Veria agora o campo entregue ao agronegócio sem contrapesos, com a mesma pauta de exportação do Brasil Colônia — café, açúcar, carne, madeira e cereais — enquanto 6,4 milhões de brasileiros vivem em situação de fome. Seria um golpe duro para alguém que acreditava que a dignidade se plantava antes de se colher.
E, no entanto, algo ainda o alegraria: nossa família. Ele adoraria ter conhecido seus netos, todos com o olhar voltado para o social, conscientes dos privilégios com que nasceram em um país tão desigual.
E, no entanto, algo ainda o alegraria: nossa família. Ele adoraria ter conhecido seus netos, todos com o olhar voltado para o social, conscientes dos privilégios com que nasceram em um país tão desigual.
E todos, agora, conhecedores de sua trajetória graças ao documentário Terra Revolta, que produzi com o propósito de revelar suas ideias e registrar tudo o que ele viveu e sofreu em nome do que acreditava. Veria nos netos um eco de seus ideais — e talvez nesse eco encontrasse algum conforto.
Como minha mãe costuma dizer, “a gente só morre quando é esquecido”. Desse mal meu pai nunca sofrerá. Seu nome, seu percurso e seus princípios seguem vivos — não apenas em nossa memória familiar, mas também na história política de um país que ainda deve muito a homens como ele.
João Pinheiro Neto vive. E seguirá vivendo enquanto houver quem se recuse a esquecer o Brasil que ele tentou construir.
Como minha mãe costuma dizer, “a gente só morre quando é esquecido”. Desse mal meu pai nunca sofrerá. Seu nome, seu percurso e seus princípios seguem vivos — não apenas em nossa memória familiar, mas também na história política de um país que ainda deve muito a homens como ele.
João Pinheiro Neto vive. E seguirá vivendo enquanto houver quem se recuse a esquecer o Brasil que ele tentou construir.




