
Por Henrique Pinheiro – Economista e produtor executivo de cinema – Colunista convidado.O Brasil é um país que envelhece sem preparar-se para acolher os que envelhecem. Apesar de décadas de trabalho, contribuição e esforço, a maioria dos aposentados brasileiros recebe benefícios insuficientes, incapazes de acompanhar o custo de vida real. Muitos vivem à base de uma aposentadoria que mal cobre remédios e despesas essenciais. A dignidade, que deveria ser o elemento central da velhice, acaba substituída pela preocupação permanente com contas, inflação e sobrevivência.
A essa realidade dura soma-se outra, igualmente cruel: Os aposentados se tornaram o alvo preferencial de golpistas. A cada dia surgem novos métodos de estelionato, desde ligações telefônicas supostamente oriundas de bancos, passando por empréstimos consignados não autorizados, até armadilhas digitais.
Mais grave ainda é que o perigo não vem apenas dos criminosos comuns. Há anos, fundos de pensão estaduais e federais sofrem interferências políticas, má gestão e operações suspeitas que drenaram bilhões das reservas construídas com o suor de servidores públicos.
As instituições responsáveis pela fiscalização — Banco Central, CVM e ministérios públicos — ainda operam com regras complexas, lacunas interpretativas e pouca capacidade de punição efetiva. Enquanto isso, aposentados seguem indefesos, navegando em um ambiente hostil onde a vulnerabilidade é explorada de todas as formas.
Aqui na Flórida, onde vivo há mais de 15 anos, mesmo com um sistema financeiro sofisticado e um nível maior de educação financeira, os idosos também passaram a ser assediados por golpistas. O aumento dos crimes contra pessoas idosas, especialmente os de natureza financeira, levou as autoridades americanas a adotar medidas extremamente rigorosas. Assim nasceu um conjunto de leis severas conhecidas como elderly abuse.
Na Flórida, o endurecimento foi particularmente intenso. Consultores financeiros precisam obter registro estadual e federal, além de serem aprovados na prova Series 7, um dos exames mais exigentes do sistema financeiro americano. A certificação não garante apenas conhecimento técnico, mas compromete o profissional a um código de conduta rígido. O primeiro deslize pode significar multas pesadas, cassação imediata da licença e até prisão. Nos casos envolvendo idosos, a punição é ainda mais dura, refletindo a prioridade absoluta dada à proteção dos aposentados.
Aqui, há debates intermináveis sobre regulamentação, o consultor que prejudica um aposentado arrisca a carreira e a liberdade. No Brasil, fundos de pensão são saqueados com frequência. Na Flórida, um mau investimento, que não siga rigorosamente as normas, gera investigação formal.
Enquanto o Brasil, o Banco Central e a CVM não estabelecerem regras claras, transparentes e com punição efetiva, os golpes contra idosos e aposentados continuarão se repetindo ano após ano. O país precisa reconhecer que proteger seus aposentados é mais que um gesto de justiça social — é uma obrigação moral, econômica e civilizatória.






