
Não é de hoje que os sambas-enredo são aulas de história do Brasil. Mas eles podem dizer muito mais do que suas letras. Para o professor André Diniz, compositor de sambas vencedores, os sambas feitos para os desfiles carnavalescos também refletem a época em que foram feitos. Se, durante os tempos de ditadura, só exaltavam o país e eram pró-governo, demonstravam vontade de falar e gritar por liberdade nos tempos da reabertura política. Já nos anos 1990, a força do capital falava mais alto, e as escolas eram propagandistas de produtos ou lugares de interesse dos patrocinadores. Atualmente, sem tanto interesse da mídia e sem tanta grana, os sambas-enredo voltaram para questões que não teriam espaço – apesar de legítimas – se houvesse influência do capital. Por isso, hoje os artistas mais importantes, mas também menos reconhecidos, dos desfiles – os compositores – têm mais liberdade para falar o que querem. O povo lembra mais do intérprete, do carnavalesco e até do samba, mas não sabe quem são os autores.
Essas e outras reflexões André Diniz vai levar para o espetáculo “Independência? Liberdade! Vida! Duzentos anos de luta no Brasil cantados em samba”, no dia 8, no Centro Cultural João Nogueira – Imperator, no Méier, com ingressos a preços populares. O papo é com o professor, mas os sambas serão interpretados por outros mestres – Rixxa, Eraldo Caê e Paulo Luiz –, no projeto cuja proposta é mais refletir sobre os 200 anos de Independência do Brasil do que comemorar a data. Idealizado por Márcio Marques, com direção e roteiro do produtor Marcos Salles e realização da Vibe Agency, o evento propõe uma reflexão sobre os 200 anos de Independência do Brasil e não somente comemorar a data.
Foto Michelle Beff