
Rodrigo França é um amante das artes, uma “máquina” de produzir conteúdo seja como ator, diretor ou até mesmo como participante de reality show. E, é por isso, que essa bela caminhada, que completa 30 anos, é celebrada com ainda mais trabalho.
Em 2023, França volta a atuar nas séries “Veronika” e na terceira temporada de “Arcanjo Renegado”- ele esteve na segunda temporada. E nos palcos, ele debuta no meu primeiro monólogo como ator em “Hamlet, eu”.
Há cinco anos, ele apostou na versatilidade do seu trabalho e começou a atuar no audiovisual como roteirista e hoje como diretor. E foi assim que lançou em julho o longa-metragem “Barba, Cabelo & Bigode”, conteúdo original da Netflix, ficando no Top 5 nacional e sendo o sexto filme mais visto da plataforma globalmente.
Mas os lançamentos não param por aí. No dia 19 de dezembro, França estreia o especial “Humor Negro”, pela Globoplay e Multishow, em que assina a direção. Um especial filmado em Salvador, onde quase 100% dos profissionais envolvidos são negros. No elenco Tia Má, Niny Magalhães, Jhordan Mateus, Sulivã Bispo, Evaldo Macarrão e João Pimenta. Saiba mais sobre a história do ator nesse bate-papo.
JP – Como começou sua relação com as artes?
Comecei como um menino prodígio nas artes-plásticas. Meu pai me matriculou na Oficina de Artes Maria Teresa Vieira aos dez anos. Eu era a única criança naquele lugar cheio de gente premiada. Com seis meses já era discípulo da mestra, que generosamente me ensinou tudo. Lá eu me especializei em pintura impressionista, escultura pedra sabão, cerâmica e desenho modelo vivo. Com treze anos já fazia exposições coletivas e individuais, enviando trabalhos para os EUA e Portugal. Aos quatorze entrei como ator para companhia de teatro do diretor Antônio Pedro Borges e lá vão trinta anos fazendo arte.
JP – Tem algum artista na família? Quem foi a sua maior referência?
Meu tio Gilberto França era um incrível estilista e figurinista. Meu pai um homem amante do samba, jazz e blues. E minha Mãe antes de se tornar funcionária pública federal era bailarina. Minhas principais referências foram Dona Chica Xavier, Grande Otelo, Isabel Fillardis, Dona Ruth de Souza, Abdias do Nascimento e Clementino Kelé.
JP – Como conseguiu seu primeiro trabalho no teatro? Teve algum fato inusitado ou de superação?
Através do TUERJ, uma companhia que formou Seu Jorge e muita gente maravilhosa. Uma vizinha disse que estava fazendo teatro e que as vagas estavam abertas. Fui e me apaixonei de primeira.
JP – O teatro te levou a sair mais cedo ou mais tarde de casa? Por que?
Eu saí de casa aos 16 anos. Eu precisava ter essa experiência, mesmo sendo de uma família amorosa, acolhedora e que me estimulava. Fui criado para voar!
JP – Você interpretou Luther King no teatro e participou do Big Brother. Universos completamente diferentes. Pode comentar um pouco sobres estas duas escolhas?
Sou professor de formação. Tenho a necessidade de me comunicar, assim como Dr Luther King Jr e a experiência em falar com milhões de pessoas através do reality.
JP – Na literatura escreveu o livro infantil O pequeno príncipe preto. Além da questão racial, este trabalho também foi para alguma criança da família?
Foi para minha criança interna. Coloquei no livro o que melhor aprendi com a minha avó Bené. Fui criança de terreiro, lá a filosofia é pela coletividade, pelo Ubuntu (Eu sou porque nós somos).
JP – Você tem 44 anos e tem filhos? Pensa nisso?
Tenho filhos de vida. Sou um homem amoroso, que acredita no afeto. Então, muita gente me considera pai de coração. Fora que tenho mais de 500 filhos e filhas na ONG Favela Mundo, de onde tenho orgulho em ser padrinho. Filhos biológicos ou adotivos eu deixo com o tempo que é o Senhor da razão.
JP – Pode contar como anda sua vida amorosa? É casado?
Sou um homem que acredita no amor, mas não o amor que prende, que sufoca. Não acredito na posse, acredito no amor decolonial, que admira – sem disputa. Estou solteiro, mas amando sempre.
JP – Como é a rotina de alguém que respira arte?
Durmo pouco, mas sempre foi assim. Mas a arte me retroalimenta. Tenho que dar conta de muitos projetos artísticos importantes – que empregam centenas de pessoas, mas minha lua em virgem me faz dá conta. Sou pontual e preso a excelência na qualidade.
JP – Há cinco anos, você também apostou no trabalho como roteirista e diretor. O que te motivou a abrir o leque de possibilidades de trabalho?
Precisamos de novas narrativas. Narrativa é poder. Como regra no Brasil os profissionais brancos escreveram ou dirigiram histórias negras. Eu não teria a audácia de criar ou encenar uma história judaica ou japonesa, por exemplo. Estou falando de cultura, pertencimento. A arte não pode ofender, depreciar… E quando a gente se joga naquilo que não faz parte da nossa vida, o risco de fazer desserviço é grande.
JP – O que podemos esperar de você em 2023?
Preciso aos 30 anos de carreira fazer um monólogo como ator. O diretor teatral Fernando Philbert se juntou com o intelectual e roteirista Jonathan Raymundo para eu fazer uma adaptação de Hamlet. Tem a série Arcanjo Renegado e a Verônika que farei como ator. Fora que o bicho da direção no cinema me picou, têm alguns projetos para sair. Mas como bom macumbeiro, eu só digo depois do contrato assinado. Aprendi com a minha vó.
Foto Gabriella Maria