
Entre os motivos de grande satisfação da minha profissão, dos quais me orgulho reportar, estão a estética, a beleza e a ética. Costurando esses vértices, para abrir a coluna deste ano, não poderia deixar de escolher alguém que nos representa integralmente: minha amiga Manoela Ferrari.
É sobre a trajetória dessa talentosa jornalista, professora e escritora capixaba que a coluna vai falar hoje.
A literatura entrou na vida de Manoela Ferrari quando ela era criança. Nascida em Vitória, no Espírito Santo, filha de uma pianista e de um conceituado jornalista (Marílio Cabral), a Arte e a Cultura sempre foram pilares da casa onde ela e seu único irmão – o pianista Manolo Cabral (1965-2006) – foram criados.
Foi a mãe de Manoela, Sônia Cabral (falecida há 11 anos), quem idealizou e fundou a Orquestra Filarmônica do ES. O irmão, o premiado pianista Manolo Cabral, falecido precocemente, aos 41 anos, também se tornou referência na música erudita do Estado (primeiro concertista do país a se apresentar com Orquestra, com apenas sete anos de idade). Ambos foram condecorados com bustos erguidos em monumentos públicos de Vitória.
Apesar de ter passado em 1º lugar no vestibular da UFES, Manoela resolveu se mudar para o Rio de Janeiro, em 1984, a fim de estudar naquela que era considerada a melhor faculdade de Comunicação do país, a época: a PUC-Rio.
Sempre com notas máximas, formou-se, em 1988, e, após um estágio inicial, logo foi convidada a trabalhar como repórter de vídeo da extinta TV Manchete. Em 1990, foi classificada em primeiro lugar num concurso público e virou apresentadora do Programa Caderno 2, na TV Educativa.
O casamento e os filhos afastaram a jornalista das redações, mas a paixão pela profissão nunca esmoreceu. Em 2003, começou a colaborar com matérias para o conceituado Jornal de Letras, onde está até hoje (atualmente, além das matérias de capa, assina duas colunas literárias). Perfeccionista, Manoela Ferrari voltou para a PUC, em 2008, onde se formou também no curso de Letras, três anos depois.
Foi seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) – com nota máxima em uma banca de três professores – que a levou para o caminho das publicações. Sim, Manoela nunca escreveu pensando em publicar livros. Mas seu texto impecável mereceu uma carta de recomendação da faculdade.
Assim, surgiu a primeira publicação – “Entrelinhas” – (livro lançado em 2011, pela Editora Consultor), onde Manoela mereceu rasgados elogios de dois imortais da Academia Brasileira de Letras. Na contracapa, o ex-presidente da ABL, Arnaldo Niskier, atestou: “Generosa, a escritora possui a rara capacidade de compartilhar os espaços de significação de sua escrita com os seus leitores, a quem delega o desafio de preencher as entrelinhas. O seu livro tem indiscutível qualidade literária”.
No prefácio, o saudoso jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta também não economizou elogios à inteligência de sua ex-aluna: “Manoela Ferrari possui o ‘mal’ de muitas pessoas inteligentes: a indagação contínua. Algumas coisas ela conta, mas o principal, como diz o título, tem que ser lid1o entre as linhas”.
Atualmente, entre autoria, organização e antologias, com 21 obras publicadas, a trajetória da escritora comprova o acerto da aposta em seu talento. A potência dos seus escritos revela a confiança que ela sempre depositou na Cultura. Manoela Ferrari é membro correspondente da Academia Espírito-santense de Letras, da Academia Feminina Espírito-santense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do ES, além de Embaixadora de Turismo do Rio de Janeiro.
Fruto de um ambiente familiar que girava em torno da educação e da cultura, o fio que conduziu a bela Manoela à Literatura evidencia também reflexos na sua essência. Sensível, preocupada com o próximo, desde 1998, Manoela dá aulas como voluntária na Creche Santa Terezinha. Foram “suas crianças” (como ela costuma chamar os alunos) a motivação para estrear na literatura infantil. Com a pandemia de Covid-19 e as aulas suspensas, a saída para romper o distanciamento foi colocar no papel as histórias contadas nas suas rodinhas de leitura, sempre elaboradas a partir de temas pedagógicos. E, assim, nasceram “O medo amigo” (2020), “Um Pingo fora do Lugar” (2021) e “A dinastia das Abelindas” (2022).
Acreditando na Arte como potência, Manoela Ferrari segue, com a sua trajetória, construindo pontes entre o coração e a consciência.