
Nesse Carnaval, como em quase todos os outros, preferi ficar em casa. Acho a festa linda, de forte importância cultural e econômica para a cidade e o país e – além de tudo – traz, até pra quem não participa da festa, um respiro de alegria, de prazer e de esperança na fraternidade humana. Em 2023, isso tem um componente ainda mais importante: vivemos anos tristes com a pandemia e com todas as circunstâncias e métodos usados para enfrenta-la. Poder voltar para a Avenida é mesmo um sopro renovado de esperança.
Porém, eu sou dos que gostam de ficar em casa. Esse ano, fiquei quase sozinho. Até sem esposa, que viajou – segundo ela – para me dar folga. Eu acho que ela é quem quis tirar folga de mim, mas isso não importa. Ela está com a amiga querida aproveitando para botar os assuntos em dia e eu fiquei em casa me preparando para a reestreia da minha peça no próximo dia 4 de março aqui no Rio.
Apesar disso, me sobrou tempo para fazer uma coisinha que ando meio viciado ultimamente: vejo no Youtube vídeos sobre o Universo no canal de um cara interessante chamado Sérgio Sacani – o Space Today. E vejo também o Pirulla, que é um cara especialista em dinossauros, mas que fala, e fala muito bem, sobre diversos assuntos interessantes.
Acompanhando as histórias do Universo, percebemos a dimensão paradoxalmente rara e minúscula do nosso maravilhoso planetinha Terra. Se colocarmos em perspectiva o Universo com a Humanidade, fica quase impossível não perceber que nosso tamanho é quase nenhum, especialmente quando nos vemos de forma individual. Veja: você, eu, ou qualquer pessoa, é apenas um entre 7 bilhões de seres iguaizinhos a nós. Vivemos num planetinha lindo, mas pequeniníssimo, numa galáxia de meia dúzia de outros planetas, a maioria bem maior que a Terra, orbitando um Sol que é uma estrela de quinta grandeza. Isso já nos colocaria como uma formiga dentro do oceano inteiro, mas isso ainda não basta. Nossa galáxia é apenas uma entre bilhões de outras e isso nos reduz a uma insignificância assustadora.
Vimos nos últimos meses a morte de várias e várias pessoas que realizaram coisas importantes e isso não afetou a gente além de uma tristeza esquecida assim que a próxima morte acontece. É triste, mas a verdade é que se a Humanidade deixar de existir, o Universo vai continuar sem derramar uma lágrima.
Num desses programas sobre o espaço e sobre nosso futuro no planeta, ouvi que se o Sol simplesmente se apagasse, ainda demoraria pouco mais de 8 minutos pra que a gente percebesse – que é o tempo que a luz solar leva pra chegar até aqui. Depois disso, a escuridão. A gente não morreria imediatamente, mas em um mês a Terra viraria uma bola de gelo e tudo estaria acabado.
Ouvi também sobre a tal Falácia da Poça D´água, que consiste em ter a arrogância de achar que tudo foi feito em função da Humanidade porque tá tudo dominado por nós; por achar que a gente se encaixa direitinho aqui, assim como quando você joga água num balde e ela ocupa todo aquele espaço perfeitamente.
Não, amigos.
Somos raros no Universo, sim, somos raros – talvez únicos. E insignificantes, porque raros.
Então, rapaziada, o mais inteligente é viver bem, fazer o que se gosta e ser feliz. E evitar infelicitar os outros 7 bilhões que dividem essa bolinha de gude chamada Terra.
Em resumo: cada um faz o seu, colabora com o outro, aproveita a vida, ama, produz o que quiser e seja feliz. E aproveita o Carnaval e todos os dias de nosso imaginário ano. E de todos os anos que ainda nos restarem. Em algum momento uma enorme bola de pedra pode colidir com a gente e tudo pode se acabar, caso a gente não destrua tudo antes.
Tudo isso pode te levar a pensar:- nossa, o Giuseppe está triste e pessimista com a vida e com o futuro…
Não, camaradas: estou apenas dizendo que somos mesmo raros e que precisamos aproveitar ao máximo a sorte de termos a oportunidade de viver – e saber que vivemos! – essa maravilhosa experiência.
Nós, que dividimos esse planeta, participamos do Desfile das Campeãs. E é sempre preciso caprichar em todos os quesitos.
P.S. – Dia 4 de março reestreia aqui no Rio meu monólogo PORMENOR DE AUSÊNCIA, que fala dos últimos anos do grande Guimarães Rosa. Acredito que vale muito a pena assistir. Aos sábados e domingos de março, no Teatro Café Pequeno, no Leblon.
Imagem Victor Filho