
Eu queria escrever alguma coisa linda para homenagear as mulheres, mas me passou pela cabeça que as mulheres querem homenagens, mas querem, antes de tudo, uma boa dose de respeito.
Dar flores é legal, mas ouvir o que elas têm a dizer me parece mais necessário já faz tempo. Desde sempre, me parece.
Dar os parabéns é muito legal e necessário, mas pedir perdão pelos homens imbecis que tratam as mulheres como sendo propriedade deles, vale mais a pena. E coibir esse comportamento de uma parcela grande da população masculina é urgente.
Não queria dar um tom jornalístico a esse textinho, mas é preciso dizer que, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, só no primeiro semestre de 2022, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio. Isso significa que, a cada dia, 4 mulheres são assassinadas apenas pelo fato de serem mulheres. E quem são os assassinos, em geral? Pessoas próximas, que convivem com a vítima: maridos, namorados, paqueras, às vezes até um irmão, um chefe… Sempre é um homem descontente com alguma coisinha que feriu – ou ele acredita que feriu – seu brio de macho-dominante.
Quer saber de uma coisa, assassino?: – engole essa valentia tosca e deixa a mulher viver a vida dela.
Muitas vezes, a mulher quer se separar exatamente porque não quer mais conviver ou compreender as fraquezas de um homem que se sente ameaçado, justa ou injustamente.
Quer saber, machão?: Você não é dono da mulher que está contigo. E nem ela é obrigada a suportar esse domínio tosco, validado pela porrada. Se você não se garante na palavra, nos gestos de afeto e em argumentos que o tornem atraente, cai fora, cidadão. Deixa a mulher andar.
Mais uma vez: que graça tem manter uma pessoa ao seu lado na base da porrada e do terror?
Ao longo das gerações, as mulheres desenvolveram, por instinto de sobrevivência, uma dose de paciência extra, mas tudo tem limite. Mulher também acredita no perdão, mas calma lá. Em algum momento a peteca cai e o jogo tem que parar.
Mais uma vez, um dado jornalístico: parece que o Presidente assinou decreto para fazer com que mulheres tenham direito ao mesmo salário pago aos homens em funções iguais. Já não era sem tempo, até porque, em geral, quem exerce dupla função são as mulheres. Na maioria dos casos, são elas que trabalham o dia todo e ainda tem que cuidar de filhos, da casa – e ainda ouvir que esse é um trabalho que não tem importância nenhuma. Isso sem falar nas mulheres que cuidam sozinhas de seus filhos porque o marido se pirulitou por aí.
Só os homens que encaram ajudar suas mulheres no trabalho doméstico é que sabem a dureza que é. Então, rapaziada, vamos levantar a bunda do sofá pra trocar uma fralda, lavar uma louça ou varrer um quintal. Isso não vai fazer você ficar menos homem, pode acreditar!
E, quer saber: nem acho que devemos tratar as mulheres de maneira igualitária. Devemos trata-las muito melhor. E devemos fazer isso porque elas são superiores, não inferiores a nós. E são tão superiores que, conhecendo nossas fragilidades, ainda nos deixam acreditar que somos os machões que a gente gostaria de ser.
Eu louvo as mulheres e luto o tempo todo para compreendê-las nas suas mudanças de humor, nas suas oscilações hormonais e até quando elas brigam com a gente por razões que a gente sequer consegue entender.
E, embora sabendo que compreender as mulheres é tarefa quase impossível porque elas são complexas demais para nossa limitada capacidade, continuo tentando. E admirando a beleza, a generosidade e todos os mistérios que fazer das mulheres o motor do mundo.
E saiba: até quando, nós homens, fazemos algo de extraordinário, haverá sempre uma mulher a nos impulsionar, a torcer por nós, e sem esperar crédito por isso.
E vou terminar fazendo uma analogia machista:
– As mulheres são macho pacas.
Se liga, Mané!