
Durante toda a semana passada aconteceu aqui no Rio de Janeiro um evento importante para o mercado audiovisual e para toda a produção de Cultura e Entretenimento. Coisa séria que reuniu todas as áreas envolvidas na produção de uma obra artística.
A primeira coisa legal foi o evento ter acontecido na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca. Depois de vários anos e, pra mim, pela primeira vez, eu vi aquele chamado Elefante Branco ganhar vida de verdade. Milhares de pessoas circulando pelas diversas salas, pelos espaços provisórios especialmente montados para o evento, além de stands de comidinhas, espaços pra sentar e tomar um café, enfim: tudo o que um grande encontro merece e deveria ter. O Rio de Janeiro precisa ocupar a Cidade das Artes, promover eventos, espetáculos, shows e tudo o que pode gerar dividendos para a cidade. A Cultura é responsável por uma parcela considerável do PIB nacional, além de gerar uma quantidade enorme de empregos.
A Cidade das Artes tem tamanho e instalações capazes de receber muitos eventos simultaneamente e deveria receber estímulos para que isso acontecesse. Olha só esse dado da Fundação Getúlio Vargas: cada Real investido em Cultura proporciona um retorno de 13 reais para o Estado. Não dá pra negligenciar isso. É um argumento bem racional para convencer os reticentes… E mesmo que fosse apenas o dobro… mesmo que houvesse apenas o retorno simples, já seria sensacional.
A Cultura atrai pessoas, incrementa a atividade hoteleira, movimenta restaurantes, ocupa as atrações turísticas da cidade, aumenta a renda de ambulantes, gera empregos em todas as áreas. Cultura não é feita apenas por artistas, ao contrário. Somos a parcela criativa do processo, mas necessitamos do trabalho de muitos e muitos profissionais. A Cultura, além de gerar divisas, torna tudo mais interessante, aumentando a autoestima da população da cidade.
A única coisa que me incomodou, e sempre me incomoda em qualquer lugar, é o desnecessário emprego da língua inglesa. Tudo em inglês, a começar pelo nome do evento: RIO2C. Rio to see.
Reconheço que o inglês ajuda a colocar os turistas em contato com as informações da cidade, como ruas, meios de transporte etc, mas tem muita coisa que não precisa. Talvez eu seja antigo, mas acho um tanto colonizado achar que ao se escrever em inglês a coisa fica mais importante…
Só pra concluir, é preciso dizer que esses eventos valem para as capitais e grande cidades, mas valem também para a pequena cidade do interior. Se você leva um show ou uma peça de teatro para o interior, logo isso começa a gerar empregos temporários para pipoqueiros, para o pequeno hotel da cidade, para restaurantes, para eletricistas, para um monte de gente. As pequenas cidades devem criar uma agenda cultural anual para gerar renda para sua população. Renda e autoestima. Não se deve menosprezar o quanto a autoestima favorece os negócios. Muitos empresários já se deram conta disso.
Um povo feliz trabalha mais, melhor e mais produtivamente.
Me entristece sempre quando noto que muitas pessoas associam o trabalho ao sacrifício e à coisa chata.
Veja essa instituição conhecida de todos: o happy hour!
Além de ser outra coisa em inglês, esse tal de happy hour está associado ao final de semana, ao fim do expediente, àquele momento de deixar pra trás uma semana de trabalho. Happy hour parece ser o momento em que você tenta esquecer que na segunda-feira vai voltar ao calvário profissional e ao sofrimento. Quer dizer: essa hora feliz seria o docinho que você dá a uma criança pra que ela pare de chorar. Mas a segunda-feira vem e começa mais uma semana de sacrifícios e lamentações.
Acho triste que a chamada hora feliz esteja relacionada ao fim do trabalho.
Muita gente vive assim a vida toda, a vida toda. E sequer identifica isso como algo triste de viver. Muita gente, já no primeiro dia de trabalho, sonha com a aposentadoria.
E eu que ia falar do Rio2C, acabei quase fazendo um discurso homenageando quem trabalha com prazer.
Sou assim, meio chato mesmo.
Foto Revista Exame