
Redação de jornal baiano, nos velhos tempos da imprensa analógica:
O editor arrematava texto de uma reportagem, para por na página, quando empacou com alguma informação duvidosa.
Convocou o bravo repórter policial, só para conferir:
– O caro colega tem certeza de que isto aqui é isto aqui mesmo?
De brios mexidos, o outro pulou:
– Sem sombra de dúvidas, meu nobre editor! Minhas informações são e serão sempre absolutamente confiáveis, sem cunversê nem arrudeios. Quanto a isto, a amigo nem se avexe.
– É que às vezes acontece de a gente se equivocar…
Pronto! Futucou onça com vara curta…
– Não no meu caso! Talvez o colega não saiba, mas sou um repórter estudado, pós-graduado e precavido. Para melhor desempenhar esse nobre ofício jornalístico, fiz questão de conhecer a fundo as ciências da Medicina Legal e do Direito Criminal!
– Bem, é que…
– E quer outra?!
– Homi, rapaz, pra que tudo isso?
– Para ter, além da convicção, o conhecimento acadêmico na hora de escrever e descrever um fato, uma foto, uma questão, um objeto…
– Vixe…
– Veja: conheço repórter de polícia que, por desconhecer o Código Penal, não consegue traduzir para o querido leitor o crime no qual o meliante personagem na notícia está envolvido; por não ter noções de medicina, não consegue seque descrever a ação fatal de um projétil no corpo, pois o cabra leva um tiro no períneo e ele escreve que foi no perônio! Entendeu?
Macaco velho, o editor desconfiou da lengalenga e quis saber:
– Entendi. Mas você sabe mesmo qual a diferença entre períneo e o perônio?
E ele, todo pimpão:
– Mas é claro! Perônio é um osso, certo?
– Certo! E o períneo?
– Períneo é aqui, ó! Minha irmã até operou… – disse o repórter, apontando com o dedo a região do apêndice.
Rendeu demissão? Claro que não. Nesse tempo a vida também era analógica. Caíram todos na gargalhada e o nosso amigo ganhou o apelido de Repórter Períneo.
Bons tempos.