
JP – Vamos conversar falando de sua formação já que você tem outra formação.
Sim, sou nascida em Santos, formada em desenho industrial pela FAAP e pós graduada em História da arte em Firenze – Itália. Fui diretora de criação na área de tecidos, trabalhei em grandes empresas do setor no Brasil e na França. Nos últimos anos me dedico a arte contemporânea com exposições no Brasil e exterior e tenho trabalhos em coleções em New York, França, Argentina e Brasil.
JP – Quando resolveu escrever Uma Relação sem Nome?
Desde os quinze anos mantenho diários. Há anos venho trabalhando com assuntos que tratam de questões atuais sobre relacionamentos em meus trabalhos de arte visual. Durante a pandemia ao reler alguns diários senti que era o melhor momento para tentar escrever não só para mim , senti a necessidade de compartilhar pensamentos , questionamentos e afirmações sobre assuntos tão atuais. Pesquisei escritores que fizeram obras a partir de seus diários e grandes autoras que se basearam em suas vidas para tratar de assuntos que tinham necessidade de abordar. Por isso escrevi uma auto ficção. Em meio a verdades fui criando situações que tocam pontos que considero importante falar: as dificuldade de aceitar a idade avançada, o abuso em várias áreas, a compreensão do outro, o medo, a coragem e principalmente a finitude.
JP – Um reencontro pelo Facebook seria normal?
Atualmente não existe nada mais normal do que relações que começam através de rede social, seja ela qual for. Conheço muitos jovens que estão muito bem casados e se conheceram através de sites de relacionamento, meu filho é um exemplo. E isso não acontece somente com os jovens, pessoas maduras reencontram amigos de escola, ex-namorados ou novos companheiros através de uma ferramenta que se tornou necessária para as novas formas de relacionamento do século XXI.
JP – Para uma iniciante na literatura qual a sua principal dica e porque?
Exatamente por ser iniciante não estou à altura de dar dicas. Posso falar de como criei coragem de dizer que estava escrevendo um livro . Sempre li muito desde a adolescência, quando resolvi abrir o computador e no word colocar a primeira palavra na folha em branco segui alguns conselhos de Stephen King: escreva muito, tudo o que vier a sua cabeça, sem elaborar as frases ou as melhores palavras , somente escreva, escreva, escreva! Crie uma meta diária do número de palavras que irá escrever, o prazo no qual irá terminar e cumpra essa meta. Em quatro meses escrevi 580 páginas. Para rever, cancelar o excesso, trabalhar frases e palavras foram quase doze meses. Cheguei a 180 paginas aproximadamente. Foram idas e vindas no texto, lendo e relendo inúmeras vezes. Criei coragem e pedi a ajuda de pessoas próximas, ávidos leitores, para me falarem o que sentiam ao ler minhas folhas soltas. Foi um processo de grande aprendizado.
JP – Tem alguns autores que te inspiram?
Todos os autores sempre me inspiraram, como agradeço no livro a todos os escritores que li até hoje desde O Gato de Botas ! No momento Marguerite Duras , Ricardo Piglia e Carla Madeira entre tantos outros.
JP – Tive o prazer de ler o livro e me encantei , como você tem recebido as criticas em qualquer sentido?
Tenho recebido vários tipos de observação. De pessoas próximas e de pessoas que eu não conheço. De pessoas de todos os níveis culturais. Todas essas observações me realizam muito, na realidade o que mais quero é que as pessoas pensem sobre vários assuntos tratados no livro. Já recebi demonstrações que me emocionaram junto com a emocionada demonstração , já ri muito com mulheres que adorariam ter uma aventura com o personagem Dann, outras que se revoltaram por achar que a personagem Luiza era incongruente ao se deixar abusar e outras que se perguntam se a finitude de Luiza é verdadeira ou ficção. Todas as observações são importantes, é o grande prazer como resultado do meu trabalho, tocar o maior número de pessoas .
JP – A mulher ficou bem nítida no romance, você se considera uma feminista atuante?
Era adolescente quando as mulheres queimaram sutiãs em protesto. Toda minha juventude não usei sutiã , muitas vezes fui chamada pela família de ovelha negra, simplesmente por estar sempre na contra mão das tendências. Não casei de véu e grinalda e tive três relacionamentos ditos “ casamentos” e nunca mudei meu nome de solteira para o nome de casada . Nada disso por fazer parte de um movimento feminista e sim por acreditar que somos seres humanos ,cada um com seus aspectos específicos independente do gênero. Sinto muito por hoje assistir mulheres levantando bandeiras de forma exagerada perdendo a força dos verdadeiros motivos.
JP – Uma frase favorita de Beth Neves?
Minhas frases favoritas mudam diariamente . Tenho algumas favoritas que fazem parte do livro . Uma delas é: Quando achamos que temos todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.