
O meu convidado desta semana tem o dom de transformar e criar através da maquiagem. Quem assisti aos espetáculos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e saí de lá encantado com a plástica das personagens, não faz ideia do quão trabalhoso e fascinante é o processo de criação/transformação usado pelo inusitado, caracterizador, maquiador e visagista, Ulysses Rabelo. Batemos um papo em que ele fala de como se descobriu profissionalmente, do processo de criação para o Cinema, Teatro e Televisão, e muito mais. Confira!
JP – Para começar, fale um pouco sobre você.
Sou caracterizador, maquiador e visagista. No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sou o visagista responsável pela caracterização dos corpos artísticos da casa.
JP – Quando surgiu o interesse pela maquiagem?
Ainda criança, no jardim de infância Horas Alegres, em Santa Cruz, bairro onde nasci, fui assistir a uma peça no cinema ao lado do colégio. Quando falo, ainda lembro do coelho, da onça e dos outros personagens. Naquele momento, descobri o que queria. Era estar naquele ambiente, mas não falei para ninguém, nem podia!! Rsrsrsrs. Na década de 70, surgiu a série O Planeta dos Macacos. Ali eu descobri que queria fazer aquilo. Criar máscaras, personagens etc. O meu avô (Zé vô) era cinéfilo e o seu monstro preferido era o Frankenstein, e o meu passou a ser também. Tudo me levava ao caminho da Arte da criação!
JP – Como se dá o processo de formação de um maquiador?
No meu caso fui para o SENAC. Foi ótimo, porém ainda queria mais. Estudar, estudar e estudar… Eu sou um pintor de tela e o rosto para mim sempre foi uma tela em branco.

JP – Existe alguma diferença de maquiagem para o Teatro, Cinema e Televisão? Ou é o mesmo procedimento para as distintas instâncias?
Muita diferença! A distância do Theatro te direciona as marcações e correções com definição, podendo trabalhar a sombra e a luz de acordo com a iluminação, a personagem, e mantendo um diálogo profissional com a direção e o figurinista.
No cinema temos a aproximação, o close, o realismo nos obrigando a saber ver, e entender a maquiagem, antes mesmo de vermos o teste. O olhar do Maquiador precisa ir além. O processo criativo nos obriga a termos um bom conhecimento de causa. Hoje a TV utilizando câmeras que conseguem ver os poros, a perfeição e imperfeição da pele, o olhar apurado e o uso do material correto, ajuda muito. O profissional de maquiagem precisa entender e conhecer, tipos de rosto, como corrigi-lo, conhecer as cores e suas misturas. O profissional da maquiagem, antes de tudo é um Artista, e um Artista, entende o que faz. O Artista respeita técnicas! O Artista respeita o seu processo criativo! Estou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro há 30 anos. Confesso que errei muito até começar a entender todo esse processo, mas estou conseguindo a cada trabalho. Estou sempre em processo de evolução!JP – Quais foram as principais produções em que você atuou como maquiador?
São inúmeras, vou citar alguns títulos: • Opera Carmem 2023 • Ballet Gisele • Bibi uma vida em musical • Disney em Produção Brasileira JP – Qual foi o seu principal trabalho como maquiador?
No musical sobre a vida da Bibi Ferreira fui indicado ao Prêmio APTR de Teatro. O júri ressaltou o meu tempo de trabalho no teatro. Foi uma honra estar concorrendo com a dona Nicete Bruno, grande atriz brasileira que já nos deixou. Achei uma loucura, mas valeu a indicação! E também, em 2010, recebi o Prêmio Plumas & Paetês pela caracterização do segundo casal de Mestre-Sala e Posta-Bandeira da Unidos da Tijuca.
JP – Como está estruturado no Brasil o mercado dos maquiadores? Quais os principais locais de atuação?
Existem cursos sérios que formam excelentes profissionais. Existe também o YouTube que “ensina” que a maquiagem é a mesma para todos os tipos de rosto. Às vezes, me assusta ver profissionais “criando” técnicas que sempre existiram e batizando com nomes diferentes. Técnica primordial para a maquiagem: sombra e luz, o rosto por si já guarda as suas sombras e luzes naturais. Realçá-las, seria a maneira mais inteligente. Criar tipos é possível, mas é necessário um olhar diferenciado e profissional. Os principais locais e tipos de atuação: • Theatro • Cinema • TV • Maquiagem Social • Maquiagem Social Noiva • Musicais • Theatro lírico
Theatro lírico (Ópera e Ballet)
Passarela
• Editorial de Moda
JP – Como tem sido a sua experiência no universo das Escolas de Samba?
Continuo aprendendo!!! Rsrsrs. É uma ópera a céu aberto. Tive grandes desafios e tudo deu certo. Um dos pontos importantes para destacar é aprender a dizer não na hora certa, o que revela uma atitude madura. Somente o tempo faz a gente entender isso. Este ano, estarei mais uma vez, com a comissão de frente da Beija-Flor, com o Saulo e o Jorge. Aguardem que vem surpresa boa por aí.
JP – Quais são os seus projetos futuros?
Na pandemia, comecei uns estudos em casa com o Nilton Jr, o meu companheiro de criação de personagens. Eu amo estudar! Quero prosseguir com os estudos e estar junto às produções que possivelmente farei parte. Evoluindo sempre! JP – Cite uma frase importante. O sucesso pode te levar tanto ao topo da fama, como ao fundo do poço! De um amigo Espiritual quando comecei a trabalhar com a Arte da Maquiagem. Gratidão!