
Foto: Carlos Monteiro
1.
– Faz quanto duas cadeirinhas por meia hora, meu amigo?
– É vinte, rei.
– Sou turista não, conterrâneo. Oxi!
– Pague dez, vá, pai.
– Aí, sim.
E ele, abrindo a cadeira e resmungando:
– É dureza, viu, véi?…
2.
Depois de três dias lendo jornal no IPad, saí à cata de um bom e velho matutino
impresso. Encontrei nas imediações da pousada uma banquinha de produtos diversos –
de picolé a cigarros – com umas revistas amareladas sobre o balcão improvisado. Um
moço tomava café em copinho de plástico e pitava ao lado:
– Bom dia. Vende jornal?
– Qual o senhor quer?
– Pode ser a Folha de São Paulo ou O Globo do Rio.
– Vende jornal de fora aqui não.
– Então, um local.
– Qual o senhor quer?
– O que tiver. O Correio, A Tarde, Tribuna…
– Esses eu acho que tem.
– O senhor pode verificar?
– Só esperando Ximba voltar.
– Quem é?
– O rapaz da banca.
– Não é o senhor?
– Não. Eu sou das frutas ali. Tô só tomando conta.
– Ele demora?
– Nada. Foi só comprar um bolinho de puba, já volta.
Aguardei uns quinze minutos. Cansei. Dei meia-volta. Antes, me despedi do amigo
de Ximba.
E ele:
– Ô, homi, pra que essa pressa?!
3.
No restaurante, na Barra, pedi um peixe do jeito que eu gosto e veio do jeito que
ninguém merece.
– Tava bom, meu rei? – perguntou o garçom.
– Não, véi! Peixe semicru, tempero malfeito, dendê sem sabor…
– Ô, rapaz! E agora?
– Tem bronca não! Importante é o Bahia não cair pra segundona e o Vitória subir.
E ele, abrindo um sorrisão:
– Massa!
4.
Tomando uma água de coco na areia, pertinho do Farol. O velhinho se aproxima, de
muleta, o pé machucado dentro de um saco plástico.
Comovido, pego uma nota no bolso e, antes de ele concluir a pergunta “O amigo
pode me dar uma ajudinha?”, eu a entrego:
– Pronto! Nem precisei falar muito! Deus não vai nos deixar faltar nada — diz ele.
– E se faltar a gente dá um jeito – eu digo.
Ele abre um sorriso bonito e enigmático.
E segue em frente.