
Conversei com o ator, diretor, produtor e neurocientista, Andy Gercker. Nascido em Santa Catarina, aos 18 anos começou a estudar Teatro, depois seguiu para o Rio onde formou-se na CAL e mais tarde foi dar ‘uma espiada na neurociência’. Atuou no Cinema, Teatro e TV, além de mergulhar no universo dos textos. Agora se prepara para estrear, em novembro, no Centro Cultural Banco do Brasil RJ, o projeto da peça Mahatma Andy e a Batata Filosofal. “Tudo está conectado, o mundo todo é uma grande batata”, brinca.
Confira!
JP – Olá Andy! Onde você nasceu? Sua família? Como foi sua infância? Formação básica?
JP – Como surgiu o projeto da peça Mahatma Andy e a Batata Filosofal, cuja temporada acontecerá em novembro no CCBB RIO? Durante muito tempo guardei esse título para fazer algum trabalho. Desde os anos em que eu trabalhava no Zorra Total. Sempre achei engraçado e infame esse trocadilho, que acabou se tornando o meu alter ego e minha assinatura nos emails entre os amigos. Toda vez que parei para pesquisar qualquer assunto relacionado ao tema, o que é Mahatma, o que comem, onde vivem e como se reproduzem, acabei me deparando com um universo infinito de possibilidades e a piada simples e sem profundidade foi se afastando. Algo em mim precisava ser revisto. Foi aí que decidi me especializar e realizar uma pós graduação em Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness, para garantir minha saúde mental naquele período de isolamento radical e principalmente para aprimorar o meu texto que eu já vinha acumulando laudas. Durante a pandemia nosso corpo físico não se moveu tanto, mas nossas almas em compensação percorreram destinos reveladores. A peça é resultado dessa experiência, o que eu fiz com os meus fantasmas, de que maneira burlei o próprio fantasma e consegui transformar em arte todo aquele grito abafado que precisava sair. Quando escrevemos queremos publicar, ler, apresentar, dar vida, ouvir feedbacks e para um ator de formação isso é um caminho quase inevitável. O trabalho propõe um convite à interioridade, um profundo mergulho, através de uma narrativa que une além de humor e neurociência, mas também história e um pouco de filosofia. Essas camadas ainda esbarram em temas emergentes, como controle e manejo de ansiedade e depressão, temas lgbt+, auto ficção e fantasia. Eu não pretendia ensinar o conhecimento adquirido nem posar de coach, minha escolha foi revelar a surpreendente jornada que eu mesmo atravessei. Todo processo de autoconhecimento e cura deve ser sempre compartilhado. Evoluímos juntos e é somente isso que importa. A peça felizmente tem feito eco nos corações e nas mentes dos espectadores e confesso que essa sempre foi a minha verdadeira intenção. JP – A busca para encontrarmos a nossa verdadeira essência é algo que sempre estamos tentando conseguir. Você é uma pessoa também preocupada com o seu lado interior, em buscar encontrar o caminho que nos leve à nossa verdadeira essência? Com certeza. Todos nós temos histórias para contar, mas quais histórias dentro de nós podem ser originais? E como a nossa história pode nos ajudar a revelar o nosso significado? Essas são algumas perguntas feitas em “Mahatma Andy e a Batata Filosofal”, que fui impelido a descobrir para me tornar maior. Quem sobreviveu a essa traumática experiência pandêmica, de uma certa maneira, acabou descobrindo que só vale a pena se dedicar ao que realmente nos é essencial. A verdade, mesmo que tenha cara de mentira, continua sendo imprescindível. Averiguar e distinguir uma da outra é missão que não podemos nunca deixar de cumprir. JP – Como tem sido a sua experiência na TV Globo, uma vez que você já atuou em novelas, como O Outro Lado do Paraíso, e programas de humor, como o Zorra Total? Eu sempre quis trabalhar na TV Globo e acho incrível ter conseguido tornar isso uma realidade. Adoraria fazer muito mais coisas, tenho muita disposição para trabalhar. Eles é que me aproveitam pouco. JP – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma mensagem para todos seus fãs. Eu pretendo circular o máximo possível com a peça Mahatma Andy e a Batata Filosofal, para outros bairros, cidades, estados e pretendo inclusive levar para fora do país. Estou aguardando a estreia de alguns trabalhos como: Tô de Graça, o filme! que entrará em breve nos cinemas, assim como o longa metragem Casos & Casais com direção do ator Bruno Garcia, que deve entrar nos canais de streaming, além da série Verônika, nova produção do Globo Play em que eu interpreto um advogato. Aos meus fãs, eu quero agradecer o gigantesco carinho que recebo todos os dias, com as mensagens e as abordagens mais gentis e divertidas. É muito bom ser tratado dessa maneira tão amorosa. Que a gente sempre tenha motivos pra rir e ser feliz. Sucesso pra todos nós. Axé!
Olá, eu nasci em Joinville/SC, cidade dos príncipes, das flores e da dança! Tive uma infância simples, vivendo grande parte em bairros rurais e periféricos. Sempre estudei em colégio público, passando por uma escola agrícola na adolescência e concluindo meus estudos primários em Garuva/SC. Município onde morei até completar 18 anos, quando então mudei de estado para estudar Teatro. JP – Quando despertou em você o interesse de ser ator? Eu não saberia precisar o exato momento em que isso aconteceu na minha vida. Foi sempre uma relação muito intrínseca. Minha crise, no período de escolha de profissão, era justamente por não ter crise alguma. A profissão de ator havia me escolhido desde muito cedo, eu simplesmente quando pude, mirei e me rendi. E tem sido o mais longo caso de amor que já vivi e que jamais me arrependo. JP – Em qual espaço se deu a sua formação como ator? Quais foram os seus mestres? Quais são as suas referências teatrais? Minha primeira formação teatral foi em Curitiba, na capital paranaense, numa escola em que eu trabalhei durante todo o meu curso para pagar as minhas mensalidades. Me esforcei muito durante toda essa época, começando a conhecer o mundo com minhas próprias pernas e precisando lutar por mim mesmo. Tenho profundo agradecimento e orgulho de tudo que aprendi e experimentei durante os 12 anos que morei em Curitiba. Em seguida me formei Bacharel em Teatro pela CAL no RJ. Minhas referências sempre foram os artistas que, apesar de todas as adversidades, continuam compartilhando do mesmo apreço, amor e respeito por essa profissão. Meus heróis estão em cena, nos livros e nas telas. São tantos, que só sei absorver o melhor de cada um deles o quanto posso. Mas posso destacar um feliz encontro com Moacir Chaves, diretor de teatro, que causou grande impacto no meu trabalho como ator. JP – Você associa a sua formação como ator com a de neurocientista. Como você consegue fazer essa associação? Um ator é aquele que estuda a psicologia humana, que se aventura num mergulho mental para a construção de seus personagens. A neurociência, no meu caso, foi um complemento, uma especialização, uma espiada nesse universo, para me ajudar a entender melhor, algumas coisas também de ordens fisiológicas, o funcionamento do sistema nervoso, além da grande ferramenta no cuidado da minha própria saúde mental. Tudo está conectado, o mundo todo é uma grande batata. JP – Você além de atuar, também é um autor de textos teatrais. O que é um texto de teatro? Como você o define? Quais são as suas características? Um texto de teatro é uma expressão artística de uma experiência realista, que pode até se apresentar metaforicamente, mas que sempre esconde algo vivido por trás de suas palavras, assim funciona comigo. Um texto registra uma época, a emoção de um tempo, a memória de um povo. O universo de quem escreve. É um pensamento organizado, às vezes nem tanto, que se dispõe a revelar algum mistério da vida. As vias clássicas de dramaturgia e suas estruturas de jornadas heróicas me interessam muito, estou sempre estudando e aprendendo, agora, subvertê-las esporadicamente, também nos proporcionam grandes resultados. Não existe receita, fórmula correta. Escrever é um processo de libertação. É de uma riqueza imensa interpretar um texto autoral, cada palavra ali possui uma imagem, uma atmosfera que já passou por você mesmo. JP – Você é um ator que atua no teatro, no cinema, e na televisão. Atuar nesses três espaços é a mesma coisa ou não? A forma de atuar muda de espaço para espaço? Eu diria que não é a mesma coisa, porque são veículos de comunicação que exigem diferentes tipos de entrega. Seja de intensidade ou de tempo, tudo varia conforme a obra ou o produto. Mas que na hora em que ouço a palavra Ação ou o Terceiro sinal do teatro, o jogo é comigo mesmo e na minha capacidade de oferecer o meu melhor. Aí sim, não importa onde eu esteja trabalhando naquele momento, entrar em cena é sempre uma emoção. 