
Ensaio da peça “Lygia.” Sobre os diários da artista plástica Lygia Clark. Foto Verônica Peixoto
Minha convidada dessa semana é a atriz e professora de Yoga, Carolyna Aguiar. Com 30 anos de carreira como atriz, hoje sua prioridade é o desenvolvimento espiritual. Atriz revelada há 25 anos na novela “Fera Ferida” (1993), ela se tornou estudiosa e professora de yoga após viver no retiro de Bhagwan Shree Rajneesh, o Osho, protagonista do documentário Wild, Wild Country, da Netflix. Interessada em técnicas naturais de bem estar, ela até mudou de nome por motivos místicos.
JP – Quando você começou a se interessar pelas artes cênicas?
Na minha primeira infância já fazia teatro na escola e montava peças de teatro nas férias com meus primos e amigos. No Colégio Andrews fiz aula com o Miguel Falabella e ai, me apaixonei de vez! JP – No âmbito das artes cênicas, como foi a sua formação? Fiz minha primeira peça profissional com o Carlos Wilson aos 18 anos. Já tinha feito teatro amador com Amir Haddad, Miguel Falabella, Daniel Hertz e Adriana Maia, Fabio Junqueira… Aos 18 entrei na faculdade Uni Rio de Artes Cênicas, que abandonei ao conhecer Angel Vianna, numa preparação corporal para um espetáculo do Sergio Britto. Fui então para sua escola de dança contemporânea, onde me formei. Mais tarde fiz a sua faculdade também. JP – Quais são as suas principais referencias teatrais que condicionaram a sua atuação? Amir Haddad e Camila Amado, sem dúvida. JP – Qual é o autor teatral que você mais admira (nacional ou estrangeiro)? Nelson Rodrigues, sem dúvida. Amo sua sonoridade. Sua pontuação carioca. Sua forma de escrever faz com que a palavra fique ritmada e nunca caia no drama, nunca mele. Ele pontua suas frases de modo que as personagens vivam suas tragédias, como se fossem cotidianas. JP – Tem algum texto que você deseja interpretar num palco e ainda não realizou? Sim, tenho há anos uma ideia para a Electra. Mas ainda não saiu do mundo dos sonhos para a realidade. JP – Na peça A Inquilina você vive a Robyn. Como surgiu o projeto de encenar a peça? Como está sendo a experiência de representar a Robyn? A Luísa me apresentou o texto e nos apaixonamos. Lemos em duas vezes de forma on Line na pandemia. Na primeira parte morri de rir, na segunda sai bastante emocionada e silenciosa. Não sabia como iriamos montar, mas entendi que precisávamos fazê-la de alguma maneira. Adoro poder viver a Robyn, ela me ensina a desapegar, a seguir adiante sem olhar para trás. Faz-me lembrar de uma Carolyna que já existiu e havia esquecido, que amava aventuras, amava não saber para onde iria, amava acordar e não ter nada programado há não ser sair por aí sem rumo. JP – Além de atriz, você também é professora de Yoga. Como se deu sua formação? Qual é a linha no campo da Yoga que você segue? Comecei na busca espiritual bem cedo na vida. Aos 19 anos fui para a índia e lá comecei a me aprofundar em técnicas que pudessem abrir outros campos da minha percepção. Aos 21 anos comecei a praticar Htha Yoga, Raja Yoga e Bakthi Yoga com regularidade. Até hoje pratico. Fiz várias formações como professora de Hatha Yoga em diferentes estilos. Hoje, pratico Vinyasa sozinha. Faço minha própria série antes de meditar. JP – Como você aplica os ensinamentos da yoga na sua vida quotidiana, e até, se for possível, no teatro? A yoga que eu pratico é a Yoga do Reconhecimento. Uma pratica para eu enxergar a mim mesma, o mundo a minha volta e todos os seres como perfeitos, a imagem do próprio Deus. Não é fácil. Tudo no mundo nos ensina o contrario. Que nós nunca seremos perfeitos ou plenos, que o mundo a nossa volta é triste e só depois da morte alcançaremos o paraíso. Para a Yoga, a vida é um milagre em si e tudo que a envolve é vivo também. Não há nada neste mundo que não seja um milagre divino e ter essa percepção é o maior êxtase que poderíamos desejar. Isso tem tudo haver com o teatro. Esse acontecimento único, efêmero, vivo, coletivo, profundamente humano e divino ao mesmo tempo. JP – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma mensagem para os seus fãs. Desejo levar A Inquilina pelo Brasil e a peça “Lygia.”, onde atuo sobre os diários de Lygia Clark pelo Brasil, Portugal e para outros lugares do mundo. Também estou começando a pensar um solo sobre a minha relação com a espiritualidade.