
Nos anos Sessenta, o pensamento de “esquerda” era quase majoritário dentro de quase todas as Universidades. A PUC não fugiu a essa onda. Eu me lembro que durante muito tempo oscilei entre o Partido Comunista Russo e o Chinês. Mao Tse Tung era o líder que eu mais admirava na época e continua sendo até hoje. Mas o Partido de tendência chinesa era ainda muito desorganizado, estava começando… E preferi entrar para a Ação Popular.
JP – Como foi sua experiencia de trabalhar com Maria Clara Machado no Tablado?
A experiência de fazer Teatro com o Tablado foi ótima. Mas na época precisava ganhar dinheiro, coisa que o Teatro amador não dava. A peça foi um sucesso e levantou muito dinheiro pro Tablado, mas eu saí fora. Precisava ganhar dinheiro.
JP – Qual foi o impacto do golpe de 1964 em sua trajetória de vida?
No mês seguinte ao Golpe, o Diretor da Faculdade de Psicologia me chamou dizendo que viu meu nome em primeiro lugar numa lista de pessoas que foram denunciadas como comunistas e, supostamente, eram pessoas a ser presas ou que foram denunciadas… Fui denunciada por uma “amiga” muito católica, com quem estudava literatura portuguesa. O Diretor disse que arranjaria uma Bolsa de Estudos para a França, pra mim. Que deveria sair do Brasil. E foi o que eu fiz. Consegui uma Bolsa para Strasbourg, cidade deliciosa, onde fiquei uns nove meses fazendo uma espécie de Mestrado, onde fui aluna de um Sociólogo que eu admirava muito; conhecia seus livros: Henri Lefèbvre.
JP – Comente sobre seu contato com Henri Lefebvre.
O Jenri Lefèbvre se divertiu muito quando soube que eu, com um nome inglês, tinha nasci- do em Manaus-Amazonas. Queria que eu fosse entrevistada na Televisão pelo Levi- Strauss. Eu me recusei a isso que considerei um vexame. Sou tímida para esse tipo de exposição.
Ele no dia que soube que era amazonense me convidou para almoçar na sua casa, e fiquei muito amiga da mulher dele que tinha a minha idade e acabara de parir uma bebê, Armelle. Linda. Ficamos amigos. Eu queria ir pra Paris e Lefebvre foi quem me ajudou a conseguir a transferência. Uma das razões de ir para Paris era a Ação Popular. O partido estava com algumas pessoas lá, se reunindo. Lefebvre acabara de sair do Partido Comunista e estava irritado com a atitude da União Soviética ter invadido a Hungria, a República Tcheca e daí por diante. O Partido se comporta neste momento como a religião católica na época da Inquisição, Claro.
Sua vida vai ficar restrita a reuniões partidárias. Eles estão com muitos antolhos. É como entrar para um convento. O partido comunista virou um convento que tentará dirigir sua vida, você só poderá fazer o que o Partido deixar. Eu não admito este tipo de ingerência na minha vida, disse ele. Pense bem! Eu pensei, pensei e pela quantidade de reuniões que o partido exigia, decidi sair do “convento”. Uma coisa é ter um pensamento, outra é entrar para um convento.
A bolsa de estudos era pequena e acabei conseguindo um emprego na Embaixada do Brasil. Fiz estágio numa Clínica de tratamento para crianças. Num determinado momento estava morrendo de saudades do Brasil. E retornei em 1968!
JP – Como estava a cidade do Rio em 1968 quando você retornou?
Chegando ao Rio levei um susto. Ipanema era uma festa! Hippies pra todo lado.
Durante um tempo fiquei na festa. Escrevi vários contos que publiquei na revista Senhor, sob direção do Paulo Francis e no SDJB (Suplemento Dominical do Jornal do Brasil) de saudosa memória. Montei consultório para tratamento de crianças.
JP – Qual é a importância de Magno Machado Dias para sua trajetória como psicanalista?
Até o momento que assisti uma palestra de um psicanalista Magno Machado Dias, que acabara de chegar da França onde havia trabalhado com Lacan e fiquei impactada pela sua fala. Procurei-o para fazer análise (com ele) e me inscrevi na Associação Psicanalítica que ele acabara de fundar. Enquanto psicanalista o encontro analítico com Magno foi fundamental. Considero sua obra, com mais de quarenta volumes, a mais importante teórica e clinicamente junto com Freud. Inclusive, como teórico e clínico, mais importante do que Lacan.
JP – No campo da Psicanálise, quais são suas principais referências?
No campo da Psicanálise, para mim, as principais referências são Freud e MDMagno.
JP – Quais são os seus projetos futuros? E para finalizar, deixe uma mensagem para
os seus seguidores.
Como escrever sempre foi algo fundamental para mim, algo que por várias interferências e razões tive impedimentos diversos, pretendo a partir de agora continuar mais intensamente esta atividade.