
Essa semana fui conversar com a galerista Fátima Simões, que revela que desde a infância sempre esteve envolvida com música, teatro e arte. “Lembro ainda menina ir aos fins de semana nos centros culturais participar de oficinas e atividades variadas. Na verdade sempre convivi neste universo criativo de inúmeras possibilidades”.
JP – Quando você começou a se interessar por trabalhar com arte?
Com certeza a ida para São Paulo ampliou os horizontes, além da cidade propiciar inúmeras imersões em exposições, museus, centros culturais e feiras, comecei a fazer exposições itinerantes com a galeria Arunã, que sempre foi uma loja de arte popular brasileira que ficou conhecida por valorizar os artistas populares.
Nesta época participei de vários projetos governamentais para promover o artesanato brasileiro.
JP – Como você vê a arte popular brasileira?
Ao fazer esta entrevista um filme passou na minha cabeça de toda a trajetória que a arte popular brasileira percorreu, num passado distante, não tínhamos quase nenhuma literatura, exposição, divulgação, patrocínio e visibilidade com a arte popular.
Tivemos algumas mulheres que fizeram a diferença com a arte popular. Cito algumas , que sempre foram referência para mim, Aura Maria da Costa Simões, Lélia coelho Frota, Adélia Borges, Janete Costa, Ângela Mascelani, Ana Maria Schindler, Ruth Cardoso, Wilma Eid, Sônia Quintella de Carvalho, onde cada uma teve um papel fundamental para que a arte popular tenha sido valorizada, reconhecida, catalogada, explicada, divulgada, e hoje seja parte da cultura brasileira como nosso patrimônio cultural.
JP – Você é uma mulher empreendedora. Quais são os principais desafios do empreendedorismo no ramo dos negócios da arte popular?
Posso dizer que são inúmeros, tendo percorrido este universo desde menina, tendo ido diretamente com os artesãos e os mestres populares como nas comunidades e associações, posso afirmar que são inúmeras as dificuldades, desde a produção, a compra, o transporte, desde a logística para conseguir acessar, tivemos um trabalho muito importante do Sebrae e o projeto comunidade Solidária que capacitou inúmeras associações e artesãos para possibilitar a comercialização e acesso a arte brasileira.
JP – Qual foi a importância do mercado popular de Caruaru para estimular a sua atuação como empresária no ramo da arte popular?
Assim como todas as culturas brasileiras devem ser valorizadas, a cultura nordestina não fica de fora. O nordeste tem o maior acervo cultural do Brasil. Desde comidas, artes, músicas, danças, arquitetura, sotaque. Tudo isso enriquece a cultura do país. Numa viagem ainda menina quando estive em Caruaru pela primeira vez fiquei impactada com a produção, referência e a beleza do nosso artesanato confesso que me marcou muito esta viagem de conhecer mais a fundo a cultura do nosso país .
JP – A sua primeira loja se chamou Arunã. Como foi essa primeira experiência?
A Arunã começou em Curitiba em 1980, idealizada pela minha mãe Aura Maria da Costa Simões, depois de uma viagem ao nordeste. Então, participei de todo o processo e desde então estive sempre envolvida em divulgar e promover a arte popular brasileira.
Depois montamos a loja em São Paulo no Shopping Eldorado, a seguir no Barra shopping, e no aeroporto Santos Dumont no Rio de janeiro.
JP – Da primeira experiência exitosa, você expandiu os seus negócios com a arte popular brasileira. Quais foram os novos espaços que você inaugurou? Quais são os seus principais clientes?
Nesta trajetória de 40 (quarenta) anos que a Arunã teve foram inúmeras exposições e espaços culturais onde divulgamos os artistas, suas histórias, e a beleza do nosso acervo cultural.
Temos um público variado desde colecionadores, decoradores, e todos aqueles que valorizam e entendem a importância de fomentar e apoiar a arte .
JP – Comente sobre o espaço da Vogue Gallery Brasil.
Depois de quatro anos morando no exterior por conta de uma expatriação do meu marido Thomas King, que é meu maior apoiador e incentivador do meu trabalho , quando retornei ao Brasil recebi o convite da superintendente do Vogue Square Veleria Zettel para fazer uma galeria que valorizasse o artista e sua arte .
A importância de instituições apoiarem a arte é fundamental para estes projetos !
Foi feita uma pesquisa do Ministério da Cultura em 2019 que demonstrou que 75% dos brasileiros ou não frequentam ou nunca foram a um museu. Entre os diversos motivos, destaca-se que muitos dos entrevistados afirmam não se sentir pertencentes à expressão cultural oferecida por eles. Deste modo, a inclusão cultural depende não só da formação de um público consumidor, mas também da redefinição dos valores e o acesso a arte possibilita uma proximidade .
Por isso a importância de parcerias para que todos tenham acesso a espaços voltados para atividades culturais, mas também aumentar os estímulos para que os cidadãos os frequentem. Dessa forma, hoje o Vogue virou referência como um local que promove a cultura já fazendo parte do calendário cultural do Rio de Janeiro.
JP – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixe uma frase para os seus seguidores
Meu projeto se chama levar “Arte por toda parte”. O Brasil é admirado por sua diversidade cultural e produção artística. No entanto, ainda muita gente não tem acesso à cultura. Acredito que levar Arte por toda parte faz parte do encantamento em acreditar nos talentos brasileiros e querer mostrar a beleza e sensibilidade de tantos artistas.