
O Rio de Janeiro ganhou nesta sábado, 11, uma nova galeria de arte: a Flexa. O nome, derivado do adjetivo flexo, denota a natureza flexível, adaptável do espaço, que vai atuar no mercado secundário de arte, mas com um olhar contemporâneo, realizando diálogos entre distintas gerações, promovendo resgates históricos, apoiando instituições e fomentando a formação de coleções. Para isso, conta com a expertise e o acesso ao acervo de uma galeria consolidada no setor: a paulistana Almeida & Dale, de onde vêm dois de seus cinco sócios: Antônio Almeida e Carlos Dale. Completam o time os cariocas Pedro Buarque, diretor executivo, Luisa Duarte, diretora artística, e Maria Ferro, diretora comercial da casa. A reforma do projeto arquitetônico do prédio na Rua Dias Ferreira, no Leblon, é do escritório paulistano Vão, responsável pela expografia da última Bienal de São Paulo. Já a identidade visual da galeria é assinada pelo renomado diretor de arte Giovanni Bianco.
“O Rio foi por décadas o polo mais importante do mercado de arte, mas perdeu protagonismo ao longo dos últimos anos, enquanto São Paulo se tornou efervescente. Acho que podemos contribuir para fortalecer o Rio e dar representatividade à cidade nesta cena”, diz Pedro Buarque, que tem uma longa história de proximidade com as artes. Seu pai, o advogado e colecionador Luiz Buarque de Hollanda, foi sócio da galeria Luiz Buarque de Hollanda & Paulo Bittencourt, atuante no Rio nas décadas de 1970 e 80. “Minha infância foi cercada de artistas, tudo isso é bem familiar: Cildo (Meirelles), Tunga, Lygia (Clark)… Bateu o DNA”, comenta ele, explicando por que aceitou o convite dos sócios da Almeida & Dale.
O Rio de Janeiro se constituiu como cidade a partir do encontro singular entre sua exuberante geografia natural e o seu tortuoso desenvolvimento urbano. Conhecida como “Metrópole à Beira-mar”, a antiga capital brasileira pode ser vista como um palco vivo da disputa entre a ortogonalidade do traçado urbano que caracteriza as cidades modernas e uma paisagem capaz de desafiar tal intento racional que visa domesticar a natureza. Tal disputa, por sua vez, encontra uma ressonância em um importante capítulo da história da arte carioca – o neoconcretismo. Iniciado em 1959 por nomes hoje consagrados como Hélio Oiticica, Lygia Pape, Lygia Clark, o movimento foi responsável por desconstruir as bases do projeto construtivo europeu –segundo o qual a arte deveria emular uma abstração geométrica ideal, pura e organizada. Os artistas neoconcretos instauraram, por sua vez, uma subversão desse projeto construtivo, retirando-o do plano idealizado ao estabelecer um atrito entre a assepsia característica da geometria e o registro do que é vivo, pulsante, pois parte do corpo, da natureza, da rua, do cotidiano.
A exposição coletiva “Rio: a medida da terra” aborda tais tensões, apresentando paisagens históricas e atuais da cidade, obras neoconcretas e contemporâneas, além de abordar questões políticas e sociais, como a violência urbana e a resistência cultural, explicitando um panorama sobre as formas de vida e criação plurais na cidade. A mostra também destaca a sobrevivência das tradições culturais cariocas, como o carnaval, em meio às mudanças urbanas e temporais.
Serviço:
Flexa Galeria
Rua Dias Ferreira 214, Leblon
Abertura: dia 11/05 (sábado), 17h30 às 21h
Funcionamento: Segunda a Sexta, 10h às 19h | Sábado, 11h às 17h
Entrada gratuita
Veja como foi a inauguração nas fotos de Cristina Granato.