
Estreou Amazônia no teatro Prio.
O espetáculo inédito da companhia DC (Dissídio Coletivo) é de dança contemporânea, dividido em duas partes. A direção e a concepção é de Joao Wlamir.
O espetáculo consiste na apresentação de uma visão poetizada da Amazônia, criada a partir das memórias afetivas do diretor do espetáculo Joao Wlamir, construída a partir das histórias que lhe contavam quando era garoto, passadas de gerações a gerações. Ele nasceu em Rondônia, e a sua experiencia local é levada ao palco por meio da dança. Vemos e sentimos na apresentação as cores, sons, cheiros e paladar do mundo amazônico.
O espetáculo é bonito, poético, sensível, uma viagem pela história e tradições culturais amazônicas, suas lendas, sua culinária, seu povo, suas festas, suas canções, seus rios, seus peixes, suas árvores, entre outras.
O espetáculo tem uma mensagem poética, como já comentamos. Contudo, de uma forma sutil, há uma crítica ao processo de destruição da região. Expressa um engajamento com as questões indígenas, de forma poética, através da dança.
No início do espetáculo, os bailarinos aparecem pela plateia vestidos com longas casacas brancas. É o homem branco chegando. E eles vão em direção ao palco e sobem. É a chegada na Amazônia, quando entrarão em contato com os povos nativos da região, suas tradições, sua cultura, e a floresta, sua fauna, sua flora.
E, na segunda parte, quando há a apresentação do corte de árvores, que tem provocado o desmatamento, seja para o comércio madeireiro, seja para abrir caminho para o gado passar.
As coreografias criadas por Jaime Bernardes, Monica Barbosa, e Joao Wlamir esbanjam beleza e técnica. Os bailarinos estão bem ensaiados e executam com perfeição todo o movimento coreográfico. São fortes, bonitos, e potentes. Seus corpos se transformam em rios, raízes, animais. Eles exibem técnica, mas também emoção. Se entregam de corpo e alma naquela ribalta.
Os figurinos criados por Joao Paulo Bertini são bonitos e adequados a um espetáculo de dança contemporâneo. Expressa a diversidade e a pluralidade da região. Chamamos atenção para o bem elaborado figurino de Omolu apresentado na primeira parte, Fogueira de São Joao, bem como para os figurinos da apresentação Rio Negro.
A cenografia criada por Orlando Sergio é original e criativa. Consiste num telão de americano cru, sem pintura alguma, repleto de raízes, todas feitas de espuma. Na Amazônia estão as nossas raízes, os povos nativos. Eles vivem na floresta, a sua residência, e retiram o seu sustento. E, se não cuidarmos dela, as nossas raízes desaparecerão.
A iluminação de Paulo Cesar Medeiros é bonita e adequada. Como o cenário é todo branco, a luz criada para cada cena acaba por transformar a cor da cenografia. É a iluminação que dá vida ao cenário, assumindo tonalidades verde, azul, vermelho, terra, entre outros. Os profissionais da iluminação e da cenografia realizaram um casamento perfeito.
E, por fim, não podemos deixar de mencionar o cuidado e o zelo da produtora Dani Marie com cada detalhe do espetáculo.
Amazônia é um bonito espetáculo de dança contemporânea; tem uma direção competente e experiente; um corpo de bailarinos que exibe técnica e emoção em sua apresentação.
O espetáculo transforma a Amazônia em dança, e grita socorro pela preservação da natureza.
Ótima produção de dança!