
Estreou no teatro do CCBB RIO 3 a peça teatral A Casa de Hugo Ivo, peça encenada pela Multifoco Cia de Teatro.
A cenografia, original, criativa e arrojada, criada por Ricardo Rocha é o elemento que decora o palco, com certeza. Mas é mais do que isso. Dela parte toda a trama do espetáculo. O origami gigante é o elemento central de execução da peça teatral. Cenografia e elenco estão intimamente interligados. Os atores interagem o espetáculo integral, e a partir do elemento cenográfico, eles criam mini-cenografias onde sobem e descem, escalam, dançam, fazem acrobacias, e, principalmente, narram o texto.
O espetáculo é lindo, potente, emotivo, sensível, é um grito contra a discriminação e pela desestigmatizaçao dos portadores do vírus HIV, pessoas felizes, de bem com a vida, que com as pesquisas no campo da medicina e o surgimento dos medicamentos retrovirais levam uma vida saudável e digna. Se a carga viral está indetectável, então o vírus é intransmissível! Nenhum infectado pelo vírus precisa mais se esconder. Mas porque o preconceito e o estigma ainda persistem? Eis a questão que a peça teatral buscar responder.
Hugo Ivo, interpretado por Zéza, é o anfitrião que recebe todos para a festa e promete diversão sem limites. Mas o que parecia um acordo com consentimento se revela invasivo e tóxico. A festa que nunca acaba chega à beira do colapso e é preciso parar. Será necessário encontrar novas formas de habitar e conviver, novos horizontes serão abertos. Um pacto para a construção de novas pontes contra a desinformação, contra os estigmas e o preconceito, em favor do respeito, da diversidade e da saúde.
O texto, também de Zéza, busca mostrar que a contaminação pelo vírus HIV pode acometer qualquer ser humano, independente da opção sexual. Não há mais grupo de risco. Então, o que se deve fazer é curar o preconceito, desvinculando os estigmas que circundam o vírus desde a sua descoberta no início dos anos oitenta do século XX. É de urgência e emergência a criação de uma vacina contra o preconceito.
Outro ponto que o texto sublinha bastante é a criação da medicação, os retrovirais, que são fortes e resistentes, e cujo tratamento é eficaz, gratuito, e está disponível na rede pública de saúde. Cura ainda não há, mas logo virá.
Em outras épocas, quando alguém comentava que era infectado, existia toda uma repugnância, se excluía a pessoa do convívio social, relegada a exclusão e a solidão. Nos dias de hoje, com a medicação que mantém a carga viral em nível baixíssimo, impedindo a replicação do vírus e a destruição das defesas do organismo, os soropositivos são fortes, ativos e saudáveis, não transmitem o vírus a ninguém. O que enfraquece e desestimula é o preconceito.
O elenco (Bárbara Abi-Rihan, Diogo Nunes, Erick Tuller, Fernanda Xavier e Zéza), como um todo, se apresenta de forma ativa, contagiante, com uma movimentação intensa, em que interpretam, dançam, realizam coreografias, e acrobacias circenses, bem elaboradas, sob a direção de Palu Felipe. Afinal, eles estão na festa na Casa de Hugo Ivo.
Os atores estão ajustados e sintonizados. Eles utilizam uma linguagem recheada de metáforas para desestigmatizar o assunto. Interagem com o público, inclusive realizando perguntas “íntimas” no início do espetáculo. Dominam o texto e o palco. Eles se entregam sobre a ribalta. A apresentação deixa transparecer o amadurecimento e o crescimento dos atores da Companhia.
Há que se sublinhar ainda a participação da atriz Viviane Pereira que se comunica por meio de libras.
Os figurinos criados por Halyson Félix são adequados, coloridos e todos usam tênis.
A iluminação criada por Ricardo Rocha é bonita, intensa, adequada as diversas cenas, e muita luz piscando.
E, por fim, sublinhamos a competência e a dedicação de Clarissa Menezes na produção do espetáculo.
O espetáculo é voltado para todos os segmentos sociais Contudo, dado o tema, e o caráter informativo e a linguagem metafórica e descontraída utilizada pelo elenco, um público jovem se sente mais atraído.
A Casa de Hugo Vivo é uma peça teatral que apresenta uma dramaturgia forte; um elenco com vigor e intensa movimentação; e, um cenário criativo e arrojado.
Excelente produção cênica!