
Estreou no teatro Sesc Copacabana Mezanino a peça teatral Sal.
A peça problematiza a estagnação das salinas da Região dos Lagos fluminense em função da mecanização dos modos de produção do sal e do mercado imobiliário local.
A peça é idealizada e dirigida por Adassa Maetins. Esta última se apropriou das suas vivencias e memórias para redigir a dramaturgia em parceria com Fernando Marques. Adassa durante a sua infância, brincava numa salina localizada nos fundos da sua casa situada em Cabo Frio, momento em que a mesma ainda era utilizada como atividade socioeconômica e ela observava todo o seu funcionamento.
A trama narra o reencontro casual de um trabalhador do sal, em sua salina decadente, com seu filho. Este último também acaba por reencontrar um amigo do passado. O pai se mantem preso a sua comunidade, uma vez que permanece tirando a sua subsistência da salina. O encontro possibilita recordar e restabelecer a relação entre eles rachada por uma década, resgatando memórias, histórias, e observando as transformações que o espaço geográfico sofreu.
O texto tem o mérito de evidenciar a prática econômica de exploração do sal, salientando os trabalhadores que impulsionaram essa atividade, majoritariamente homens. Assim tira o foco de produtos que são muito lembrados e narrados como o café, o açúcar, o cacau, entre outros.
O texto narra como se iniciou o processo de formação natural dos depósitos de sal na região; a exploração; como se constituíam as salinas; a transformação das salinas de campos abertos em propriedades privadas; as formas de coletar o sal; a importância do produto como atividade econômica; a expansão do mercado imobiliário e o avanço sobre as áreas da salinas, entre outras questões.
O elenco é constituído pelas atrizes Miwa Yanagizawa, Laura Samy, Tati Villela e Adassa Martins. As quatro formam um bom elenco, equilibrado, ajustado, e sintonizado. Elas passam com emoção o texto que aponta para o caráter destruidor do capitalismo, que quando aterrissa em qualquer espaço geográfico tem o poder de destruir todas as tradições locais em nome do progresso. E assim foi com as salinas.
Os figurinos criados por Carla Costa são simples e coloridos.
A cenografia criada por Carla Costa inicia-se como uma tela onde são exibidas projeções. A medida que o espetáculo vai se desenvolvendo, as atrizes desmontam a tela de projeção em partes e as colocam na lateral do palco e as reutilizam em outras cenas. A cenografia apresenta releituras das salinas e das construções que foram erguidas sobre as mesmas.
A cenografia ao ser desmontada deixa o palco livre para as atrizes atuarem. A direção de Adassa Martins focou no texto, e deixou o quarteto a vontade no palco, livre para interpretar as suas respectivas personagens.
A iluminação criada por Lina Kaplan e Thaís Grechi contribui para realçar as interpretações das atrizes em suas respectivas cenas.
Sal é um espetáculo com uma boa dramaturgia, e um elenco constituído por atrizes com boas atuações.
Boa produção cênica!