
Estreou Maestro Selvagem no Centro Cultural da Justiça Federal.
O monólogo narra a trajetória do músico, maestro, e compositor Carlos Gomes (1836-1896), um dos maiores artistas do Brasil Império, contudo pouco conhecido do grande público. O texto nos apresenta a beleza de suas composições, sua controversa personalidade e a trajetória tumultuada e surpreendente.
O texto de Miriam Halfim é biográfico. Ele narra a vida e a obra do personagem do nascimento a sua morte, de forma linear e coerente. Busca sublinhar os sucessos, como as quatro estreias de suas produções no teatro La Scala de Milão, alcançando fama e reconhecimento, mas também as tragédias, como o assassinato de sua mãe quando ainda era criança, a perda de filhos, e a separação conjugal. Também assinala a sua luta contra o preconceito, uma vez que era preto, e o seu engajamento no movimento abolicionista.
Miriam reforça que Carlos Gomes foi um artista do Império. Dom Pedro II foi o seu mecenas, sendo responsável pela sua inserção no Imperial Conservatório de Música, a seguir lhe concedendo uma bolsa para realizar os estudos na Europa, e, mais tarde, lhe dando uma pensão. Também foi condecorado com a Imperial Ordem da Rosa, uma ordem honorífica. O músico era preto e conseguiu se inserir na lógica do prestígio da sociedade imperial, sendo um indivíduo próximo ao imperador, recebendo bolsas, mesadas e honras. Tal fato o projetava, e lhe possibilitava a ascensão social, tão difícil naquela sociedade hierarquizada e hierarquizante. Sua fidelidade ao imperador ficou evidente quando, com a proclamação da República, foi convidado pelos republicanos para compor o hino da nova forma de governo, e rejeitou.
Miriam também sublinha suas ansiedades e tensões, a não suportabilidade as críticas negativas, a inquietude, as humilhações e os preconceitos sofridos, e o temperamento explosivo, selvagem.
O texto é biográfico, memorialístico, musical, e potente, é uma célebre homenagem ao compositor Carlos Gomes, “caipira, preto e pobre”, que se transformou num dos maiores músicos brasileiros com carreira internacional.

Luciano Quirino tem uma atuação notável. Ele incorporou Carlos Gomes, fazendo-o descer dos céus a Terra. Está majestoso, imponente, forte. Domina o texto e o palco com maestria, movimentando-se intensamente naquela ribalta. Alia interpretação com emoção. E, consegue passar com facilidade o texto, de forma que o torna leve e poético.
A direção é de Ary Coslov que deixou o ator a vontade no palco. Ele foca no texto, e nas interpretações do ator.
O figurino é uma criação do talentoso Samuel Abrantes. O ator veste uma camisa branca, calça jeans, e tênis. Ao longo da peça, ele veste diversas casacas, e usa echarpe.
A cenografia criada por Marcos Flaksman é constituída por um banco, e ao fundo, tem uma espécie de parede que funciona como tela onde são projetadas imagens.
A Iluminação de Aurélio de Simoni é bonita, adequada, e realça a interpretação do ator em suas diversas cenas.
Luciano Quirino tem uma movimentação intensa no palco, sob a direção de Marcelo Aquino. Ele senta, fica em pé, caminha, se joga no chão. Quando tocam as músicas faz um gestual com as mãos como se estivesse regendo.
A trilha do espetáculo nos brinda com as belas músicas das óperas compostas por Carlos Gomes, como o Guarani, entre outras.
A montagem é necessária por ser um grande músico e compositor do século XIX, esquecido pela falta de memória do brasileiro. Com certeza, a montagem atingiu seu objetivo de homenageá-lo. E, aprendemos algo de bom e de novo com o espetáculo, sobretudo com detalhes preciosos da sua vida, suas lutas, sucessos e fracassos.
Maestro Selvagem tem uma dramaturgia que apresenta informações pouco conhecidas sobre a vida e a obra do maestro Carlos Gomes; um ator com uma atuação potente; e uma direção cuidadosa e eficiente.