
Da literatura ao audiovisual, o escapismo buscado numa história, muitas vezes, se depara com ideias distantes do que o dia a dia nos proporciona. A rotina não é editada favorecendo os melhores takes de nossas vidas. E os capítulos mais empolgantes sempre guardam momentos que mereciam uma revisão que faria tudo ficar melhor na montagem final. Viver é foda, conviver desgasta e se relacionar é uma arte cada vez mais complexa.
Matheus Souza, criador de Amor da Minha Vida, atinge de forma emocionante, bem humorada e sensível, os corações de todos que um dia se partiram em pedaços tentando buscar a outra parte que supostamente nos completa. Com um texto caprichado e sincero, a série disponível no Disney + faz um perfil cativante das dúvidas que circundam as relações aparentemente mais seguras.
A história de Bia (Bruna Marquezine) e Victor (Sérgio Malheiros) é permeada de momentos identificáveis em amizades ancoradas na confiança e no companheirismo. O que pode ser além do que já é e, o que não arriscamos por medo de comprometer o conquistado até agora, é trabalhado em dez episódios muito bem elaborados. A cada novo capítulo, os dois se deparam com o que já viveram, traçando paralelos com as novidades que os desafiam. O que buscam e o que querem evitar, colide o tempo todo com a percepção dos dois, dos tipos de sentimentos que conseguem acomodar. Tudo pela perspectiva de dois atores que entregam a mesma honestidade do roteiro que encenam.
O que Victor não encontra em novos relacionamentos e como enxerga o que poderia ter sido com cada namorada que teve é o outro lado da balança em que está Bia, evitando se comprometer e se entregar ao que ela, antecipadamente, acredita estar destinado ao fracasso. A amizade dos dois transborda uma cumplicidade que vai além de dividir sonhos. O genuíno carinho de um pelo outro se equilibra na tênue fita em que não consideram se amarrar juntos. E esse é um dos pontos altos da série. Mostrar o quanto esses dois, que se conhecem tão bem, não fazem ideia de como são, quando estão na condição de outra metade de um casal.
Amor da Minha Vida é franco do início ao fim. Não promete ser o que muitos gostariam que fosse, pelo simples fato de oferecer a sinceridade que a maioria quer evitar não receber em sua totalidade. É um band-aid puxado de uma vez só. Uma introdução a novos tipos de intimidade. Um recorte da hesitação comum, antes de ultrapassar uma zona segura e se lançar no território aflitivo do romance. Um olhar sobre o perdão, o recomeço e a decepção como parte do processo.