
O mundo da medicina segue oferecendo argumentos para novas séries. Inúmeras produções atravessaram décadas trabalhando arcos que aproximavam pacientes e médicos, contando os desafios de uma relação que se espera ser breve mas que, na maioria das vezes, é intensa. A necessidade de saber lidar com a perda e os impactos pessoais em cada profissional de uma área tão nobre, são temas constantes quando se propõe refletir a respeito de um ofício em que a cobrança por excelência é alta.
Desde o primeiro momento, Sutura (Prime Vídeo) revela que a tensão é o fio condutor da minissérie estrelada por Cláudia Abreu e Humberto Morais. A produção brasileira, de oito episódios, foca em dois dramas pessoais que colidem e se agravam rapidamente.
Ícaro (Morais) é um jovem residente que acaba de ingressar junto a outros três médicos em um dos hospitais mais famosos do país. Sua jornada no lugar é motivada pela chance de trabalhar com a lendária Dra. Mancini, uma cirurgiã que regressa às mesas de operação depois de uma licença de seis meses. No melhor exemplo; nunca conheça o seu ídolo, o novato se depara com a realidade do atendimento em um espaço que não é tão dedicado assim a salvar vidas. O rapaz, vindo da periferia e com uma dívida na universidade, vê sua suas dificuldades se agravarem desde o primeiro dia, enquanto se compromete numa rotina que pode custar sua carreira que acaba de começar. Ao seu lado, sua referência profissional se revela alguém capaz do inimaginável para contornar adversidades, desdenhando de qualquer limite moral para conseguir o que precisa.
Cláudia Abreu interpreta uma médica em conflito e que já não consegue mais omitir as traduções físicas de sua culpa, por acontecimentos recentes. Desprovida de máscaras e qualquer intenção de se mostrar ser quem não é, Mancini se revela portadora de segredos que podem complicar os que não acreditam que seu retorno será benéfico para o hospital. Enquanto luta para ocultar os tremores que se apossaram de sua talentosa e singular mão esquerda, a Dra. atrai Ícaro, para o seu inferno pessoal. Não demora muito para que ambos dividam problemas que não conseguirão resolver sozinhos.
Por vezes didática, Sutura mostra uma rotina em uma unidade hospitalar em que seus gestores nem mesmo disfarçam o que consideram prioridade. Aponta para a realidade de espaços em que o foco está nas novas suítes exclusivas para pacientes muito importantes. Expõe a burocracia que custa vidas e como médicos treinados a cuidar dos outros, resistem à ideia de que precisam se cuidar também.