
Estreou no Mezanino do Sesc Copacabana a peça teatral Memórias de Terra e Água.
O espetáculo é um monólogo protagonizado por André Morais.
A dramaturgia escrita pelo próprio André Morais foi criada a partir de contos do moçambicano Mia Couto, que teve como ponto de partida o processo de luto sofrido pelo ator e dramaturgo André Morais, após a perda do pai. São resgatados personagens ancestrais de Couto, ressignificando a vida a partir de uma situação de morte.
Aliás, a questão da ancestralidade perpassa toda a peça. O pai de André Morais era negro. E ele quer reconectar os laços, as pontes e os elos entre a África e o Brasil. Saber sobre os seus antepassados, os legados da ancestralidade, a busca da identidade.
André Morais tem uma boa atuação. Ele tem a técnica da boa interpretação, aliada com a emoção. Ele emociona, domina o texto e o palco, e se comunica bem com o público. Ele interpreta, canta, e tem uma expressão corporal exagerada. A sua fala tem leveza e suavidade, acalma a alma e aquece o coração. Ela deixa transparecer um tom poético, presente nas canções em línguas africanas, e na sonoridade dos tambores, muito bem tocados ao vivo por Viktor Makeba. Tal fato dá um ritmo ao monólogo, e exclui qualquer possibilidade de monotonia. O texto casa teatro, literatura, e música.
A direção é de Lúcia Serpa, em parceria com o próprio André Morais, que deixou o ator a vontade no palco. Ela focou no texto e na interpretação do protagonista.
O figurino é uma criação de Suzy Torres. Ele é de bom gosto, adequado, e facilita a movimentação do ator pelo palco. Ele veste um longo camisão de manga comprida, e por baixo uma camisa vermelha, uma calça, e carrega um cajado na mão. A partir de um determinado momento, ele tira a blusa, fica com o peitoral descoberto, e coloca por cima da calça uma saia. Ele ao rodopiar produz um interessante efeito com o figurino.
A cenografia é simples. Um extenso tapete vermelho em formato quadrado onde o ator atua, e sobre o mesmo instrumentos musicais.
A iluminação é uma criação de Fabiano Diniz, que elaborou uma luz bonita, adequada, e realça a interpretação do ator em suas diversas cenas.
Memórias de Terra e Água apresenta um texto com uma linguagem poética; um ator que em sua atuação associa técnica e emoção; e uma musicalidade africana agradável e boa de se escutar.
Boa produção teatral!