
Estreou a peça Fanatismo Contagioso, no teatro das Artes.
O texto de Bruno Bloch tem como mote apresentar um olhar alargado sobre o fenômeno do fanatismo, que tem crescido de forma considerável no Brasil e no mundo, e seus mecanismos de contágio dentro da sociedade. A dramaturgia apresenta uma reflexão sobre o fanatismo a partir da perspectiva da comédia. O texto trata os fanáticos de forma debochada, irônica, ridicularizando-os.
Bruno explora de forma correta o conceito de contágio, pois em sua perspectiva os fanáticos buscam contagiar as pessoas com os seus fanatismos. Eles são pessoas doentes, embora não se considerem, e buscam contaminar os demais membros da sociedade e integrá-los às respectivas comunidades, realizando uma lavagem cerebral. Além de adoecer, o fanatismo leva ao extremismo e a atitudes totalmente irresponsáveis, uma vez que partilham que a sua verdade é a correta, única, e universalmente válida, e utilizam os meios mais improváveis para colocá-la em prática.
O texto apresenta sete histórias sobre diferentes expressões do fanatismo, como o sexual, religioso, por consumo, esportivo, sonhos, ídolos, político. As histórias estão todas conectadas na medida em que um personagem da cena anterior migra para a seguinte levando consigo um comportamento fanático que vai impregnar o outro. É uma ideia de cadeia sucessória, que acaba por contagiar a todos os personagens. Um passa a sua enfermidade ao outro, pois são indivíduos enfermos. E, dessa forma, as histórias narradas estão todas conectadas.
Os atores Anderson Cunha e Hernane Cardoso tem uma atuação correta e adequada. Eles apresentam uma técnica interpretativa perfeita, e fazem a plateia rir das piadas jocosas e ácidas que pronunciam sobre os fanáticos. Eles apresentam bom humor e irreverencia. Como são pessoas insanas, eles os destroem com um humor cáustico, pois só assim podem curar essa doença. Os dois estão hilários, ajustados e sintonizados. Dominam o texto e o palco de forma segura, e apresentam uma intensa comunicação com o público, que ri o tempo integral da exibição. Eles divertem o público!
A direção é de Pedro Cadore que deixou os dois atores a vontade no palco para realizar as interpretações de seus personagens fanáticos.
O figurino criado por Giovanna Moretto deixou os dois atores elegantemente vestidos, cada um com seu terno vermelho, bem modelados e exprimindo bom gosto.
A cenografia criada por Mina Quental tem a marca clean da cenógrafa, que sabe estruturar de forma correta e adequada os três espaços de atuação dos atores no palco. Um central onde realizam as suas apresentações, e outros dois laterais, apresentando fitas isoladoras, em que os mesmos tecem comentários as suas ações.
A iluminação criada por
Paulo Cesar Medeiros apresenta um bonito desenho de luz, e contribui para realçar a atuação dos atores em suas diversas cenas.
Fabiana Valor conseguiu imprimir um bom ritmo aos dois atores, com uma movimentação intensa, o que confere um ar dinâmico.
Fanatismo Contagioso apresenta um texto sobre um tema duro, o fanatismo e seus fanáticos, de forma bem humorada e divertida; dois atores com atuações perfeitas, que fazem o público rir do início ao fim; e uma direção consistente e correta.
Excelente produção cênica!