
Para quem cresceu na América do Sul, existe um senso de realização singular em assistir o time do coração se consagrar campeão do outro lado do planeta, ao fim do ano. Trata-se de um rito assimilado, desde cedo, que ensinou que depois de conquistar o campeonato local e o continente, é chegada a hora de tomar o mundo. E isso, por décadas, aconteceu no Japão.
Mas viajar para presenciar esse feito sempre foi um privilégio para poucos, levando em conta os altos custos de um deslocamento desse tipo. Com o passar dos anos, mais torcedores realizaram esse sonho e encontraram, outros tantos, nos lugares mais longínquos. As grandes torcidas no Brasil tendem a acompanhar seus clubes a qualquer lugar. Num país de dimensões continentais, não se intimidam com as distâncias e só precisam da vontade de vencer, para sair de casa. E alguns gigantes do futebol nem sempre testemunham a migração de seus apoiadores, considerando que, muitos deles, já estão espalhados por todos os lados.
Lançado em 2023, Vai Corinthians mostra o capítulo seguinte à conquista da primeira Taça Libertadores da América, pela equipe paulista. Relembra a invasão de seus fiéis seguidores pelas ruas, trens e estádios japoneses no Mundial de Clubes em 2012. E como foi o desembarque no arquipélago asiático, arrebatando mais entusiastas e revelando a alienados pelo mundo afora, que por aqui, o futebol é mais intenso. Recém adicionado no portfólio da Max, o documentário é uma coletânea de algumas das histórias mais inacreditáveis de um bando de loucos (como se autodenominam), que partiu certo da vitória sem lugar para ficar, nem dinheiro para comer. Apresenta a rede de apoio local, que proveu documentos que ajudaram na liberação de vistos e até mesmo ressuscitou um hotel desativado, acolhendo milhares de corinthianos. Personalidades como o Sr. Honda, que fez a felicidade de muita gente fornecendo hospedagem, alimentação e garantindo o que mais fosse preciso aos que se aventuraram ver o título na cidade de Yokohama.
A multidão dos que não podiam ir se endividou, se divorciou e avançou além mar, para realizar o sonho de ver a equipe do Parque São Jorge levantar o troféu do outro lado do globo. Estima-se que mais de 35 mil devotos testemunharam em loco o cumprimento de um ciclo sagrado que ainda faz brilhar os olhos de muitos torcedores sul-americanos, que seguem sonhando com a glória intercontinental.