
Beth Ferrante critica misoginia através de pinturas que expõe, a partir do
dia 6 de agosto, na Galeria Candido Mendes
Uma galeria de retratos de autorretratos de artistas mulheres, todas emblemáticas à história da arte no Ocidente, América Latina, Leste Europeu, Oriente Médio e Brasil. Este é o mote de “Não Sou Teus Olhos”, individual que a artista Beth Ferrante apresenta no dia 6 de agosto, na Galeria Candido Mendes, com curadoria de Denise Araripe. Trata-se de uma contraofensiva à misoginia da história oficial da arte enquanto forma aguda da história da cultura ou das sociedades, marcada por programática supressão das contribuições femininas. Em pequenos e médios formatos, os retratos reunidos sugerem certa inconclusão antipreciosista, entregam bustos frontais, de escala direta – sob relação aproximada com o sujeito da experiência, e individualizações gestuais e cromáticas flexibilizando os campos visuais. Não obstante, o contexto adverso envolvendo as biografias em jogo (cujos tempos históricos desiguais retêm como único traço comum o sinal negativo do lugar social da artista mulher), há nessas representações de autorrepresentações a explícita ação de Ferrante de subjetivar subjetividades alheias, não importando acréscimos que as levem a uma crise.
“O pressuposto é um enfrentamento e um revisionismo crítico que exceda o caráter elogioso da citação – uma das chaves da apropriação características da pós-Modernidade. Daí a ideia de assumir flagrantes desvios das obras-referências, em lugar de mimetizá-las. Destaco o aparecimento dos textos feministas atuais em retratos das impressionistas Eva Gonzalès e Berthe Morisot, a presença da cor conceitual e antinaturalista no isolado ‘Djanira’, do azulado tabagismo ‘anti-status quo’ e os fragmentos de falas conscientes da cineasta argentina Maria Luiza Bemberg, da artista visual guatemalteca Margarita Azurdia, da multidisciplinar mexicana Maria Eugênia Chellet e da mineira Teresinha Soares, pioneira da performance e do debate de gênero. Todas elas integrantes de movimentos por direitos civis das mulheres, reivindicando igualdade política, social e jurídica”, diz Ferrante.