
O mês de agosto traz lembranças sobre o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, no Palácio do Catete, e resgata, na historiografia brasileira, a Renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e a Campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola, para que o ex-presidente João Goulart pudesse tomar posse na presidência da República, no dia 7 de setembro (de 1961).
Meu pai, João Pinheiro Neto, era secretário particular do governador Juscelino Kubitschek, em Minas Gerais, em 1954.
No dia 12 de agosto de 1954, Getúlio Vargas foi recebido pelo governador Juscelino Kubitschek, em Belo Horizonte, para uma grande homenagem ( a última homenagem pública que Getúlio recebeu) e inauguração da Usina Siderúrgica Mannesmann.
Vargas foi saudado com todas as honras, doze dias antes de sua morte, em 24 de agosto de 1954.
Em Minas Gerais, Vargas fez o seu último discurso, antes do suicídio, e defendeu o princípio da Legalidade Constitucional.
Quando Juscelino Kubitschek deixou a presidência da República e deu posse, no início de 1961, ao presidente eleito na campanha de 1960, Jânio Quadros, meu pai foi trabalhar com Samuel Wainer , na Última Hora.
João Pinheiro Neto conheceu João Goulart, por intermédio de Juscelino Kubitschek, quando JK era o presidente da República e Jango era o vice-presidente.
A amizade consolidou-se com a convivência de meu pai com Samuel Wainer, super amigo de João Goulart.
Quando Jânio Quadros renunciou, meu pai trabalhava como jornalista, na Última Hora, e acompanhou, de perto, todos os acontecimentos que vieram depois.
Ex-presidente da Superintendência da Reforma Agrária no Governo de João Goulart e ex-ministro do Trabalho, papai nos contou, mais tarde , que sempre achou Jânio Quadros um desequilibrado e uma das piores figuras da nossa vida pública.
Jânio Quadros achou que o Congresso não aceitaria a sua renúncia e que ele seria reconduzido com mais apoio.
Mas, o que Jânio Quadros fez gerou um enorme sentimento de incertezas e acendeu o espírito de golpismo da UDN e dos militares reacionários, que não queriam deixar que o, então, vice-presidente João Goulart tomasse posse, na presidência da República, como determinava a Constituição.
No dia 25 de agosto de 1961, quando Jânio Quadros renunciou à presidência da República, o vice-presidente João Goulart estava na China, em viagem com uma missão comercial brasileira.
No lugar de Jânio Quadros, assumiu o presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, mas o poder real ficou com os militares Odilio Denys, Silvio Heck e Gabriel Moss, respectivamente, os ministros da Guerra, Marinha e Aeronáutica de Jânio Quadros.
Os três ignoraram a Constituição e vetaram a posse de João Goulart. Queriam a convocação de novas eleições e tinham o apoio de Carlos Lacerda.
Quem liderou a campanha da Legalidade foi o governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que transmitiu pelas emissoras de rádio gaúchas a convocação da população brasileira em favor da posse do presidente João Goulart.
Os militares ficaram divididos. Quando saiu da China, Jango seguiu, por Zurique, para Paris. Na Europa, deu entrevista à imprensa internacional. Foi para Nova Iorque, no dia 29 de agosto, e, depois, para Miami, Panamá, Lima. Até chegar à Argentina, governada pelo democrata Frondizi, e, finalmente, ao Uruguai e Rio Grande do Sul.
O Congresso, enfim, encontrou uma solução conciliatória, o Parlamentarismo, Jango governaria com um primeiro-ministro.
O deputado federal Rainieri Mazzilli garantiu a chegada de Jango a Brasília, em 4 de setembro. E, no dia 7 de setembro de 1961, João Goulart tomou posse na presidência da República.
Tancredo Neves assumiu como primeiro-ministro de João Goulart, com o apoio dos antigos PTB, PSD e UDN.
No dia 6 de janeiro de 1963, houve referendo popular e os eleitores brasileiros votaram pelo fim do Parlamentarismo . E, foi restaurado o Presidencialismo, com Jango na presidência da República.