
O antigo casarão no Cosme Velho, sede da Mapa Filmes/Link Digital, reuniu uma plateia entusiasmada para assistir duas preciosidades do cinema nacional: o curta “Rio, Capital Mundial do Cinema”, de 1965, dirigido e narrado por Arnaldo Jabor (1940-2022), e um dos primeiros trabalhos do cineasta; e o longa “Máscara da Traição”, de 1969, do diretor baiano Roberto Pires (1934-2001), um suspense com Glória Menezes, Tarcísio Meira, Cláudio Marzo, Oswaldo Loureiro, Flávio Migliaccio, Milton Gonçalves, entre outros. Ambos foram produzidos pela lendária Mapa Filmes, de Zelito Viana e Vera de Paula, e, agora, remasterizados em 4K pela Link, de Denise Miller.
Após a exibição, o professor Hernani Heffner, gerente da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) falou sobre os filmes, contextualizando-os no cenário da cidade nos anos 1960. “Rio, Capital Mundial do Cinema” foi o primeiro filme produzido pela Mapa, através de uma encomenda do governo do antigo Estado da Guanabara, por ocasião das comemorações do IV Centenário. O tema era o Festival Internacional de Cinema, e a presença do grand mond da época. Desde os ícones do Cinema Novo, como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Ruy Guerra, as atrizes Joana Fomm e Duda Cavalcanti, a socialite Regina Rosemburgo, o ator e diretor de teatro Adolfo Celi, e o playboy Jorginho Guinle. Sem falar no jet set internacional, representado pela atriz italiana Claudia Cardinale, o ator norte-americano Troy Donahue, o cantor e compositor Charles Aznavour e o diretor e produtor americano Mel Ferrer, primeiro marido de Audrey Hepburn. As locações eram as praias, o Copacabana Palace, as atrações turísticas e o Carnaval, com suas marchinhas da época, como “Bafo da Onça” e “Olha a Cabeleira do Zezé”.
O longa “Máscara da Traição”, de Roberto Pires, “um diretor de filmes narrativos”, como se tornou conhecido, rendeu muito à Mapa, segundo Zelito Viana: “algo hoje em torno de três a quatro milhões de espectadores”. Conta a história de um casal de amantes que planeja roubar o dinheiro da venda dos ingressos de um grande jogo de futebol, no estádio do Maracanã. Chegou a ser proibido, na época, pela censura. “É um filme que dialoga com muitos outros do gênero policial, como o clássico “O Grande Golpe”, observou Hernani Heffner. Ele lembrou, ainda, a dificuldade de se fazer um filme a cores no Brasil, onde existiam poucos laboratórios, e a revelação fora do país era muito cara.