
Essa semana fui conversar com o produtor, diretor e dramaturgo Elissandro de Aquino. Sempre com muita alegria e simpatia ele nos conta sobre o espetáculo “Vou fazer de mim um mundo”, baseado no best-seller de Maya Angelou, e estrelado por Zezé Motta. Elissandro fala ainda sobre ancestralidade e projetos futuros. Confira!
JP – Olá Elissandro! Como surgiu o projeto da peça de teatro “Vou fazer de mim um mundo”?
Desejo de contar uma história que fosse comovente, que refletisse nossas dores e ao mesmo tempo, a nossa história.
JP – O espetáculo é uma adaptação para teatro do livro da Dra. Maya Angelou, o best-seller “Eu sei porque o pássaro canta na gaiola”. Como foi o processo de criação da dramaturgia?
Processo de cortar, sem tirar o que considerava essencial De se pensar o que caberia numa caixa, numa cena sem ultrapassar o universo da literatura. A dramaturgia recortou uma história numa camada micro. Como uma história dentro da história.
JP – Quais são as principais questões que o livro de Maya nos apresenta?
É um livro que nos provoca muitas camadas. Ela fala da segregação, dos abusos sociais mas há também um nível subjetivo, que reflete a casa, seus afetos, seus cuidados. Isso me comove bastante.
JP – Como você construiu a direção da peça teatral?
Esse já era um desejo antigo, de trabalhar um tema que de alguma forma refletisse um projeto anterior em que assino a dramaturgia a partir da Obra de Carolina Maria de Jesus. Quando entrei em pesquisa, li muitas obras e descobri a Dra Maya Angelou. Intuitivamente foi nascendo o desejo de trazer, pela primeira vez para o Brasil, esse projeto, que celebra os sessenta anos de carreira de Zezé Motta.
JP – Qual a razão da escolha da atriz Zezé Mota?
Precisava de uma atriz que tivesse uma voz que só conheço duas pessoas que teriam carga energética para fazê-la: Bibi Ferreira e Bethânia. Zezé fala tão lindamente, tão cadenciada. É como se nos deslocasse a um mundo mais silencioso e pleno. Sua voz – grave e doce – como uma nascente nos ajuda a suportar uma história tão carregada de dor mas ao mesmo de superação
JP – A atriz se identificou com o texto? Justifique.
Há coisas que eu não sei até hoje se parte da história é da Zezé ou da Dra Maya Angellou. Claro que quando iniciamos o laboratório não tínhamos essa ideia. Quando entramos no laboratório descobrimos muitas sincronicidades e com elas muitas emoções e afetos: muitas. A mãe de Zezé era costureira. A avó de Dra Maya Angelou era. Enfim… há muitas camadas que colocam as histórias num mesmo patamar.
JP – Você valoriza as suas ancestralidades?
Filho de nordestinos, tive uma educação bem severa com os mais velhos. Sou de uma época em que se pedia a bênção. Quando entrei para o Ketu a valorização aos ancestrais se tornou ainda maior. Como uma referência mesmo e um respeito sem igual.
JP – Quais são os seus projetos futuros?
Fazer um novo monólogo. Dessa vez contando a história de Mãe Senhora.