

Do Laos ao Peru, pelo Sri Lanka e cidades da Europa, contra o genocídio palestino, e, nos EUA, em oposição ao fascismo de Donald Trump, o presidente americano,
uma onda de manifestações recentes põe a chamada “Geração Z” no centro das ruas. Não se trata de fatos isolados, mas de sinais de um mal-estar global. Jovens que cresceram já imersos na hiperconectividade digital, mas submetidos a condições materiais cada vez mais precárias, levantam sua voz contra a falta de perspectivas, o peso da crise climática e a incapacidade das instituições políticas de oferecer respostas.
As mobilizações que emergem em pontos tão distantes do planeta indicam uma sintonia subterrânea. Uma juventude que compartilha não apenas memes, hashtags e estéticas visuais, mas também uma experiência concreta de instabilidade, insegurança e desamparo.
As mobilizações que emergem em pontos tão distantes do planeta indicam uma sintonia subterrânea. Uma juventude que compartilha não apenas memes, hashtags e estéticas visuais, mas também uma experiência concreta de instabilidade, insegurança e desamparo.
Essa juventude, formada pela “Geração Z”, não apenas usa as redes como ferramenta de convocação, mas as transforma em repertório global de indignação, cria linguagens políticas que viajam com uma velocidade inédita e ressoam em contextos nacionais muito distintos.
É inevitável traçar paralelos, com ciclos passados de protestos globais, como as Primaveras Árabes de 2011, o Occupy Wall Street ou as Jornadas de Junho de 2013 no Brasil.
É inevitável traçar paralelos, com ciclos passados de protestos globais, como as Primaveras Árabes de 2011, o Occupy Wall Street ou as Jornadas de Junho de 2013 no Brasil.
Nessas ocasiões, também se somaram à crise econômica, a juventude conectada e o descrédito institucional.
No entanto, se naquele momento ainda havia expectativa de que novas políticas, partidos alternativos ou governos progressistas pudessem oferecer alguma saída, hoje o cenário é mais sombrio.
Em 2025, estamos diante de uma crise estrutural mais profunda, em que a precarização se tornou praticamente universal e a erosão da confiança política atingiu níveis muito mais radicais.
Essa diferença de contexto confere às revoltas atuais um caráter mais difuso e, ao mesmo tempo, mais urgente. São manifestações muitas vezes espontâneas, com pautas fragmentadas, mas que revelam a percepção de que o tempo histórico se acelera e que as soluções disponíveis parecem esgotadas.
Essa diferença de contexto confere às revoltas atuais um caráter mais difuso e, ao mesmo tempo, mais urgente. São manifestações muitas vezes espontâneas, com pautas fragmentadas, mas que revelam a percepção de que o tempo histórico se acelera e que as soluções disponíveis parecem esgotadas.
Se em 2011 ou 2013 ainda havia a crença de que reformas institucionais poderiam corrigir rumos, hoje predomina a sensação de que o próprio horizonte, dentro da ordem existente, se encontra bloqueado.
Podemos, portanto, falar em limiar histórico. Há semelhança de atmosfera com os ciclos anteriores. Revolta globalizada, juventude na linha de frente, linguagens políticas inovadoras.
Podemos, portanto, falar em limiar histórico. Há semelhança de atmosfera com os ciclos anteriores. Revolta globalizada, juventude na linha de frente, linguagens políticas inovadoras.
Mas, agora, o contexto material é mais severo: A crise climática já não é previsão futura, mas realidade concreta. A guerra híbrida é parte do cotidiano e a estagnação econômica atinge, até mesmo, regiões antes vistas como promissoras.
Isso faz com que as novas revoltas sejam potencialmente mais explosivas e, sobretudo, mais difíceis de serem contidas ou cooptadas pelos mecanismos tradicionais.
O risco, no entanto, é o de que a ausência de projetos emancipatórios claros torne esses levantes uma energia difusa, facilmente capturada por populismos de direita, soluções tecnocráticas ou saídas autoritárias.
O risco, no entanto, é o de que a ausência de projetos emancipatórios claros torne esses levantes uma energia difusa, facilmente capturada por populismos de direita, soluções tecnocráticas ou saídas autoritárias.
Por isso, a tarefa mais urgente não é apenas registrar a força desses movimentos, mas reconhecer com clareza as causas profundas que os motivam: O esgotamento de um capitalismo que já não oferece futuro, apenas repetição da crise. A juventude que hoje toma as ruas sinaliza que o tempo exige mais do que reformas superficiais. É preciso já se antecipar e imaginar um outro tipo de sociedade, que não seja distópica, mas sim construída sob a utopia de um pós-capitalismo de caráter emancipador, capaz de recolocar no centro da vida social a solidariedade, a dignidade e a liberdade humanas.
Dessa forma, a luta anticapitalista assume um papel central. É necessário enfrentar o sistema de maneira direta, sem cair na armadilha de falsas soluções oferecidas dentro de seus próprios limites, pois isso apenas desarma os propósitos desta juventude e a conduz à derrota.
Dessa forma, a luta anticapitalista assume um papel central. É necessário enfrentar o sistema de maneira direta, sem cair na armadilha de falsas soluções oferecidas dentro de seus próprios limites, pois isso apenas desarma os propósitos desta juventude e a conduz à derrota.
Foi justamente a incapacidade de compreender o caráter emancipatório das Jornadas de 2013 que isolou suas lideranças juvenis e abriu espaço para que a extrema direita se apropriasse do descontentamento social, conquistando as ruas e impondo seu projeto regressivo. Reconhecer esse risco hoje é condição para que as novas mobilizações não se percam em frustrações repetidas, mas possam apontar para horizontes verdadeiramente transformadores.
Não devemos temer este novo momento. Devemos estar junto com os jovens nas ruas,aprender com eles e construirmos com eles um novo programa emancipatório, anticapitalista.