
Minha entrevistada dessa semana é a artista visual Marilou Winograd. Nascida no Cairo, Egito, ela chegou ao Brasil, no Rio de Janeiro, em 1960. Formada em Artes no CEAC (Centro de Arte Contemporânea), IBA (Instituto de Belas Artes) e EAV (Escola de Artes Visuais) do Parque Lage, no Rio de Janeiro, Brasil. Participou de exposições individuais e coletivas, congressos e seminários no Brasil e no exterior (1971/2024). É uma das curadoras do projeto Zona Oculta – entre o público e o privado, com 350 artistas mulheres (2004/2014), do projeto Acesso Arte Contemporânea, com 179 artistas visuais (2011/2024) e de várias coletivas, ocupações e convocatórias. Em 2004, publicou o livro “O Silêncio do Branco”, relato visual de sua viagem à Antártica, num contraponto com a sua obra. Entre os países onde já expôs, além do Brasil, estão: França (Paris), Alemanha (Berlim e Colônia), Argentina (Buenos Aires e Tucumã), Itália (Roma) e Portugal (Lisboa). Agora, Marilou Winograd apresenta sua nova exposição individual “O Olho Se Abriu_Rasgo Vira Sonho”, na Galeria Cândido Mendes, em Ipanema. Com curadoria de Denise Araripe, a mostra propõe uma travessia entre o corpo, o reflexo e o sonho.
JP – Olá Marilou! Você poderia nos apresentar algumas considerações sobre a exposição “O Olho Se Abriu_Rasgo Vira Sonho” que você exibirá na Galeria Cândido Mendes?
O corpo se abriu _ rasgo vira olhar
O olho se abriu _rasgo vira sonho.
Estas duas frases resumem todo o conceito da exposição. Pontuo a importância do olho como mediador entre o interior/ exterior ou seja entre o olhar do artista e o mundo.
JP – Quais são as suas produções artísticas que constituem o conteúdo da exposição?
Apresento dois objetosCorpos em tecidos longamente trabalhados com banhos de tinta branca realizados num lento processo de dois a quatro meses onde cada gesto é marcado com as mãos no tecido umedecido.
Seis fotoscolagens de fragmentos de fotos rasgadas em sobreposições agudas e variações cromáticas reconstruindo novos olhares se somam ao conjunto junto as sedas sintéticas enroladas com agulhas de tapeceiro refletidas em caixas de espelhos.
JP – Quando despertou em você o interesse pelas artes plásticas?
Sempre fui fascinada por sombras, reflexos, formas em movimento no espaço.
Sou muito míope desde os 6 anos de idade e vejo um mundo etéreo, nublado, indefinido, de luzes , sombras e reflexos.
Encontros com pessoas especiais me encaminharam por esta trilha.
JP – Como se deu a sua formação na área?
Minha formação em artes visuais foi no Centro de Arte Contemporânea , no Instituto de Belas Artes e na EAV Escola de Artes Visuais, Parque Laje, rj , curso de serigrafia com Dionisio del Ssnto, aquarela com Fayga Ostrower , cursos teóricos com Fernando Cochiaralli, AnnaBella Geiger, Frederico de Morais , cursos de filosofia com Edgar Morin, Pedro Duarte, Carlos Taveira.
JP – Quais são as suas referências (teóricas e práticas) no campo?
São encontros poderosos com pensadores, artistas, obras, textos, filmes, musicas e pessoas que me intrigam, estimulam e norteam.
JP – Qual é a definição de arte que você partilha?
Marcelo Gleiser (físico) diz que somos feitos da poeira de estrelas, sinto que a arte nos permite sermos poeira de estrelas salpicadas de humanidade e, ou, citando Ferreira Gullar, a arte existe pois a vida não basta.
JP – Quais são as características do seu fazer artístico?
Persistência, foco, curiosidade, memórias, angústia, prazer e muito trabalho.
JP – Qual é o papel que o artista deve cumprir na sociedade?
Ser artista é um continuo ato político.
JP – Qual é o balanço que você faz da sua trajetória como artista?
O prazer da descoberta diária da explosão de sentidos, emoções e perspectivas que a arte nos propicia.
10- Quais são os seus planos futuros?
Muitos projetos e rasgos a reorganizar em novos olhares. Breve, em março, novidades. Um projeto já na agenda, “um sonho em noite de insônia, a trama dos encontros”.