
Em um raro encontro de culturas milenares, o Museu da República, no Catete, símbolo da memória política do país, foi palco esse fim de semana de dois eventos que transformaram o Palácio do Catete em um corredor vivo de ancestralidade, espiritualidade e diversidade.
De um lado, o 2º Encontro das Nações: Saberes do Estado do Rio de Janeiro, que aconteceu sábado e domingo, tomou o espaço com danças, cantos e rituais de defumação conduzidos por um grupo indígena de cerca de dez integrantes das aldeias Pataxó e Guajajara. Entre eles, o destaque é Jiru Pataxó, da Aldeia Velha (BA), artesão, professor de bioconstrução e palestrante, que compartilha saberes ancestrais e fortalece a presença indígena em um dos locais mais emblemáticos do Rio.
Ao lado dos povos originários, povos de terreiro também recepcionam o público com cantorias, atabaques e o Xirê das Nações, que ecoaram pelos jardins nos dois dias do evento. A programação ainda incluiu os ciganos, com a energia vibrante de Paulo Cigano e Y Los Gitanos, banda brasileira que mistura ritmos ciganos com gêneros como o forró, em canções celebratórias e cheias de vida.
Em outro ambiente, os Jardins do Museu recebiam a Caravana África Diversa, que começou no sábado e segue até o dia 27, reunindo artistas, pesquisadores e grupos de tradições culturais imateriais de Burkina Faso, Camarões, Congo e Senegal, em troca criativa com criadores do Rio, São Paulo, Maranhão e Minas Gerais.
A curadoria é de Daniele Ramalho, que trouxe ao Rio nomes de peso como Boniface Ofogo Nkama, nascido em Bogondo (Camarões) e radicado em Madrid, narrador oral, escritor e guardião de fábulas, mitos e lendas da África negra, com trajetória marcada pela defesa da tradição oral africana desde 1992.
A foto que acompanha a nota registra com perfeição o espírito desses encontros: Boniface Ofogo, o mestre Pataxó Jiru e o cigano Paulo, lado a lado, simbolizando a potência do diálogo entre mundos ancestrais.
Em sua edição expandida, o 2º Encontro das Nações: Saberes do Estado do Rio de Janeiro reúne povos originários, quilombolas, ciganos, comunidades de terreiro, capoeiristas, jongueiros e sambistas. Uma imersão gratuita que faz do Catete um território de resistência e celebração das raízes que moldam a identidade fluminense.
O idealizador do evento, Marcelo Fritz, resume o espírito da programação:
“A diversidade é uma potência que move a economia, inspira a arte e dá sabor à cultura. Quando o axé, a moda e a gastronomia se encontram, nasce um espetáculo de criatividade e identidade. Nossa ancestralidade é também motor da economia criativa, tradição e inovação caminham juntas.”
Do encontro das nações ao diálogo continental da Caravana, o Rio reafirma aquilo que sempre o distinguiu: uma vocação natural para ser território de cruzamentos, memórias e futuros.






