
Estreou Chuva na Caatinga no teatro do CCBB-RIO 3.
Espetáculo da Multifoco Companhia de Teatro, que conclui as comemorações de quinze anos do grupo teatral.
A idealização é de Clarissa Menezes.
O texto é infanto-juvenil, lúdico, poético, musical, divertido, relacional e humanista. Tem como inspiração as tirinhas do cartunista Henfil, escritas no ano de 1972, no contexto dos governos militares. Henfil foi um cartunista, e por meio dos seus desenhos, ele ria, satirizava e protestava. Clarissa Menezes e Ricardo Rocha, os responsáveis pela dramaturgia, se apropriaram das tirinhas e as adaptaram para o universo teatral. O texto original ainda que escrito na década de setenta do século passado, ele foi apropriado e readequado para os dias atuais, de forma correta e sem alterar a sua essência.
O texto busca passar a mensagem otimista de que nada é impossível. O trabalho realizado em equipe, juntos, unidos, nos leva às conquistas. A par com a união, tem que ter coragem e acreditar no companheiro. Colocar o coração, os sentimentos, valorizar o interior de si são condições também importantes.
Graúna (ave que insiste em “querer voar”), a cangaceira Zeferina (“ignorante pela estrutura”), e Francisca Orelana (“a intelectual que quer falar difícil”) estão unidas na busca pela esperança. Elas são amigas de fé, corajosas, e lutam soberanamente. Elas andam juntas, de mãos dadas, porque elas acreditam na força da amizade. Esta é força, e potência para realizar um mundo melhor.
O caminho para conseguir alcançar a esperança não foi nada fácil. Elas tiveram que superar dificuldades de convivência entre elas mesmas. Se ajustaram e chegaram um acordo! E superar obstáculos como a seca, a fome, a censura, as práticas coronelísticas, a violência, a ignorância, entre outros. Elas enfrentaram a realidade social da caatinga, marcada pela pobreza e miserabilidade em busca da esperança, do sonho de uma vida mais digna, mais humana, como a que existe no Sul Maravilha, lugar da fartura, da boa vida.
O elenco é feminino, composto por três atrizes: Bárbara Abi-Rihan (Graúna), Clarissa Menezes (Zeferina), e Viviane Pereira (Francisca Orelana). Elas têm uma atuação de qualidade e merecedora de elogios. Elas estão unidas, afinadas e entrosadas. Atuam de forma contagiante e vibrante. Elas interpretam corretamente, e emocionam. Realizam um conjunto de trejeitos, expressões faciais, e formas corporais. Também cantam de forma afinada e com entonação. Dominam o texto, utilizando uma linguagem acessível e de fácil compreensão, recheada de figuras de linguagem. Dominam também o palco, interagindo o tempo integral com a cenografia. Toda a apresentação se passa dentro e no entorno da carroça. Elas manipulam e movimentam aquela última de forma intensa. Portanto, uma apresentação bonita e deferida.
As três atrizes são acompanhadas pela compositora e musicista Rohl Martinez, que entra em cena como a onça Glorinha. Rohl fica no canto direito do palco, tocando os instrumentos musicais, os apitos e cantando também. Ela é a responsável pelo som da encenação.
A direção é de Diogo Nunes e Ricardo Rocha, que realizaram as marcações certeiras e precisas, e deram a direção para a apresentação de qualidade das atrizes, numa espetáculo que associa movimentação e som.
Os figurinos criados por Halyson Félix são bonitos, de bom gosto, e facilitam a intensa movimentação das atrizes pelo palco.
A cenografia e Iluminação são de Ricardo Rocha.
A cenografia é criativa, original e bem solucionada. Ela é uma carroça vermelha, cujo interior apresenta tom azul. Suas partes sao flexíveis, podendo ser abertas. Toda a encenação se passa dentro da carroça e no entorno dela. As atrizes interagem o tempo todo com a cenografia. Elas entram na carroça, abrem suas partes, manipulam o elemento cenográfico, sobem na sua parte superior, realizam movimentação sobre a mesma, entre outras ações. Portanto, toda uma movimentação é realizada em conjunto com a cenografia.
A iluminação é boa e de qualidade.
A trilha sonora criada por Rohl Martinez apresenta canções com letras adequadas, que facilitam o entendimento da peça, melodias bonitas e uma boa sonoridade. Ademais, há também percussões, apitos, e efeitos sonoros.
O diretor de movimento Palu Felipe imprimiu uma intensa movimentação às atrizes, que realizam um conjunto de gestos, posturas, manipulações do cenário e formas corporais.
Há um casamento perfeito entre figurinos, cenografia e iluminação, formando um conjunto harmonioso e equilibrado.
Excelente produção de artes cênicas infanto-juvenil!





