
Nasci em julho de 1961, quando meu pai, João Pinheiro Neto, ocupava o Ministério do Trabalho no governo João Goulart. Dizem que, ainda no berço, ele olhou para mim e murmurou para minha mãe:
“Esse não vai para a política; esse vai para o mercado financeiro.”
Imagino hoje a cena: João Pinheiro Neto, já marcado pelas tensões de sua intensíssima participação na política nacional, tentando antecipar um destino que ele próprio nunca pôde escolher.
“Esse não vai para a política; esse vai para o mercado financeiro.”
Imagino hoje a cena: João Pinheiro Neto, já marcado pelas tensões de sua intensíssima participação na política nacional, tentando antecipar um destino que ele próprio nunca pôde escolher.
A política o engoliu cedo demais. Carregando o nome do avô — o ex-governador mineiro João Pinheiro — foi empurrado para o gabinete de Juscelino Kubitschek logo após se formar.
Seu temperamento sincero e inquieto jamais combinou com o jogo lento e calculado da política exercida no país.
Talvez por isso quisesse me proteger daquele mundo que o moldou, mas também o feriu.
Em 1979, pouco depois de eu completar 18 anos, ele entrou no meu quarto numa noite silenciosa de domingo:
“Amanhã você vai ao centro procurar o Dr. Gabriel Richaid. Ele é diretor da Laureano Corretora. E você vai começar a trabalhar”- disse meu pai.
Era uma ordem, mas também um gesto de cuidado. Naquele tempo, amor de pai muitas vezes vinha disfarçado de rigidez.
E, assim, na manhã seguinte, vesti meu único blazer — já gasto de tantas festas de 15 anos — e segui para o Centro da Cidade.
Em 1979, pouco depois de eu completar 18 anos, ele entrou no meu quarto numa noite silenciosa de domingo:
“Amanhã você vai ao centro procurar o Dr. Gabriel Richaid. Ele é diretor da Laureano Corretora. E você vai começar a trabalhar”- disse meu pai.
Era uma ordem, mas também um gesto de cuidado. Naquele tempo, amor de pai muitas vezes vinha disfarçado de rigidez.
E, assim, na manhã seguinte, vesti meu único blazer — já gasto de tantas festas de 15 anos — e segui para o Centro da Cidade.
O Rio parecia pulsar mais rápido do que eu. Jornais gritavam a inflação, os rumores de crise e de incertezas. Eu não sabia, mas estava prestes a entrar justamente no coração daquele turbilhão.
A sede da Laureano Corretora era um outro universo.
A sede da Laureano Corretora era um outro universo.
Telefones disparavam como metralhadoras, homens de terno atravessavam corredores com passos urgentes, papeletas dançavam de mão em mão. Antes mesmo que eu dissesse meu nome, já tinham me colocado diante de uma mesa com números que eu mal entendia.
Ninguém perguntou quem eu era. O mercado não tinha tempo para isso.
Comecei a buscar clientes com uma lista que meu pai me entregou — sócios do Jockey Club, nomes que, para ele, eram rostos, histórias, amizades antigas. Para mim, eram o primeiro degrau. E, rapidamente, a carteira cresceu.
Comecei a buscar clientes com uma lista que meu pai me entregou — sócios do Jockey Club, nomes que, para ele, eram rostos, histórias, amizades antigas. Para mim, eram o primeiro degrau. E, rapidamente, a carteira cresceu.
Mas havia algo no ar. Era como se a Laureano Corretora respirasse sempre um pouco acima dos outros. Pagávamos as maiores taxas. A pergunta “por quê?” começou a sussurrar no fundo da minha mente.
A resposta veio devagar, como peças de um quebra-cabeça que só fazem sentido quando vistas de longe.
A resposta veio devagar, como peças de um quebra-cabeça que só fazem sentido quando vistas de longe.
O Dr. Gabriel Richaid tinha um trunfo invisível: Sua amizade íntima com o general Golbery do Couto e Silva, homem-forte da ditadura, o arquiteto silencioso dos bastidores do poder. O “Golberyzinho”, seu filho, figurava na folha de pagamento — embora raramente aparecesse.
E, então, veio a revelação mais dura: A Laureano Corretora estava tecnicamente quebrada. Uma aposta desastrosa em ações da Eletrobras havia derrubado suas estruturas.
E, então, veio a revelação mais dura: A Laureano Corretora estava tecnicamente quebrada. Uma aposta desastrosa em ações da Eletrobras havia derrubado suas estruturas.
A empresa só continuava viva porque, por influência de Richaid e Golbery, o ministro da Fazenda, Delfim Neto, autorizara uma injeção de liquidez silenciosa do Banco Central. Era isso — o que ninguém via — que sustentava o que todos admiravam.
Foi nesse momento que entendi. Enquanto eu achava que entrara em um mundo de números e clientes, na verdade, pisava em um terreno onde política e mercado se entrelaçavam como raízes subterrâneas. Nada do que acontecia na superfície explicava, sozinho, o que realmente mantinha tudo de pé.
Este é o primeiro artigo de uma série sobre minha trajetória no mercado financeiro, iniciada em 1979 e que continua até hoje — sigo na ativa, ainda aprendendo.
Foi nesse momento que entendi. Enquanto eu achava que entrara em um mundo de números e clientes, na verdade, pisava em um terreno onde política e mercado se entrelaçavam como raízes subterrâneas. Nada do que acontecia na superfície explicava, sozinho, o que realmente mantinha tudo de pé.
Este é o primeiro artigo de uma série sobre minha trajetória no mercado financeiro, iniciada em 1979 e que continua até hoje — sigo na ativa, ainda aprendendo.




