As letras de um destino que não era meu
Luiz Claudio de Almeida
21 de dezembro de 2025

Por Henrique Pinheiro – Economista e produtor executivo de cinema – Colunista convidado.
Em 1981 eu tinha 20 anos, aquela idade em que a coragem é maior que a experiência e a esperança parece sempre capaz de vencer qualquer crise.
Mas, dentro da Laureano Corretora, a realidade pesava mais a cada dia. A situação financeira, já frágil, começava a rachar de vez.
Continuávamos a disputar clientes pagando taxas acima do mercado, como se generosidade fosse sinônimo de solidez. Eu já sabia que não era.
Mas era jovem demais para entender o tamanho do abismo sob nossos pés.
A proximidade com Brasília, porém, parecia dar um certo conforto. E esse conforto tinha nome: General Golbery do Couto e Silva. Sempre que ele vinha ao Rio, fazia questão de visitar seu amigo Gabriel Richaid — e, para nós, isso era como um carimbo invisível de credibilidade. O mercado podia desconfiar, os rumores podiam circular, mas a presença dele era tratada como um aval que dissipava dúvidas, pelo menos dentro da casa.
Fora da Laureano, no entanto, o clima era bem diferente. As mesas de operações da concorrência farejavam a sangria. Corriam boatos, telefonemas discretos, insinuações plantadas com precisão cirúrgica: “A Laureano vai quebrar”. E clientes, naturalmente, assustavam-se. A pressão ficou insuportável.
Foi então que o general entrou em ação, dessa vez acionando diretamente o ministro da Fazenda, Ernani Galveia. Galveia, que por sua vez, encontrou uma solução que parecia milagrosa: Vender a Laureano para o grupo Coroa Brastel, um gigante dos eletrodomésticos que surgira nos anos 70 e que faturava bilhões.
A proximidade com Brasília, porém, parecia dar um certo conforto. E esse conforto tinha nome: General Golbery do Couto e Silva. Sempre que ele vinha ao Rio, fazia questão de visitar seu amigo Gabriel Richaid — e, para nós, isso era como um carimbo invisível de credibilidade. O mercado podia desconfiar, os rumores podiam circular, mas a presença dele era tratada como um aval que dissipava dúvidas, pelo menos dentro da casa.
Fora da Laureano, no entanto, o clima era bem diferente. As mesas de operações da concorrência farejavam a sangria. Corriam boatos, telefonemas discretos, insinuações plantadas com precisão cirúrgica: “A Laureano vai quebrar”. E clientes, naturalmente, assustavam-se. A pressão ficou insuportável.
Foi então que o general entrou em ação, dessa vez acionando diretamente o ministro da Fazenda, Ernani Galveia. Galveia, que por sua vez, encontrou uma solução que parecia milagrosa: Vender a Laureano para o grupo Coroa Brastel, um gigante dos eletrodomésticos que surgira nos anos 70 e que faturava bilhões.
O grupo tinha seu próprio braço financeiro, a Coroa, especializada na venda de Letras de Câmbio para financiar operações comerciais.
A proposta do Ministério da Fazenda e do Banco Central a Assis Paim, dono da Brastel, era simples no papel — e explosiva na prática: Ele poderia emitir um volume específico de Letras de Câmbio sem lastro, isto é, sem vínculo real com vendas ou transações da empresa. Um privilégio jamais concedido a ninguém. Em troca, assumiria a Laureano. Era o tipo de acordo que só existia nos bastidores silenciosos da ditadura, onde conveniências se confundiam com as decisões de Estado.
Eu, claro, não sabia de nada disso.
O que soube, em uma manhã qualquer, foi que, agora, pertencíamos a um grupo poderoso. E que havia um novo produto para vender: As letras de câmbio da Coroa Brastel.
A proposta do Ministério da Fazenda e do Banco Central a Assis Paim, dono da Brastel, era simples no papel — e explosiva na prática: Ele poderia emitir um volume específico de Letras de Câmbio sem lastro, isto é, sem vínculo real com vendas ou transações da empresa. Um privilégio jamais concedido a ninguém. Em troca, assumiria a Laureano. Era o tipo de acordo que só existia nos bastidores silenciosos da ditadura, onde conveniências se confundiam com as decisões de Estado.
Eu, claro, não sabia de nada disso.
O que soube, em uma manhã qualquer, foi que, agora, pertencíamos a um grupo poderoso. E que havia um novo produto para vender: As letras de câmbio da Coroa Brastel.
Saí em campo com entusiasmo, acreditando que estava oferecendo segurança e taxas superiores. Ingenuidade pura. Vendi para clientes, para amigos — e, na maior das imprudências, para minha própria família. Achava que lhes dava uma vantagem. Na verdade, entregava-os ao risco sem saber.
À noite, voltava para casa com a cabeça latejando. E sempre a mesma lembrança surgia: Meu pai, lá atrás, tentando me afastar da política. Ele queria me poupar dos subterrâneos do poder.
À noite, voltava para casa com a cabeça latejando. E sempre a mesma lembrança surgia: Meu pai, lá atrás, tentando me afastar da política. Ele queria me poupar dos subterrâneos do poder.
Mas eu, sem perceber, estava cada vez mais enredado neles. Em plena ditadura militar, tudo era nebuloso. E eu, tão jovem, caminhava entre sombras acreditando estar sob a luz.
No próximo artigo, contarei como terminou a história da Coroa Brastel — e como o desfecho me atingiu em cheio, abalando minha recém-formada carteira de clientes e a fé que eu ainda tinha no mercado.
No próximo artigo, contarei como terminou a história da Coroa Brastel — e como o desfecho me atingiu em cheio, abalando minha recém-formada carteira de clientes e a fé que eu ainda tinha no mercado.



