O dia em que descobri que um golpe pode não ter tanques
Luiz Claudio de Almeida
28 de dezembro de 2025

Por Henrique pinheiro – Economista e produtor executivo de cinema – Colunista convidado.
Em 1983, às vésperas de completar 23 anos, eu ainda acreditava — ou queria acreditar — que tudo se ajeitaria. O acordo entre o governo e Assis Paim, dono do grupo Coroa Brastel, parecia claro: Emitir um volume limitado de letras de câmbio sem lastro.
Mas limites, quando se misturam com poder e ambição, viram apenas sugestões.
Paim montou sua própria “casa da moeda”.
Paim montou sua própria “casa da moeda”.
As prensas trabalhavam, metaforicamente, dia e noite, despejando títulos no mercado com velocidade muito superior à de qualquer lastro real.
A proporção se inverteu rapidamente.
O que deveria ser exceção, virou regra.
Vivíamos dentro de uma bola de neve que crescia com assustadora naturalidade. Para atrair compradores, as taxas precisavam subir continuamente. Quanto maior o risco, maior o prêmio. Era o tipo de lógica que seduzia antes de destruir.
Nos bastidores de Brasília, enquanto o mercado fervia, uma disputa silenciosa tomava forma.
O Ministério da Fazenda, comandado, naquela época, por Ernane Galvêas, e o Ministério do Planejamento, com Delfim Neto, travavam um duelo de versões e interesses com o Banco Central, então presidido por Carlos Langoni.
Cada órgão tinha sua interpretação da crise — e, no fundo, sua parcela de responsabilidade.
Em junho de 1983, a corda arrebentou.
O Banco Central interveio na Coroa Brastel, classificando o caso como o maior esquema de fraude financeira do regime militar.
Em junho de 1983, a corda arrebentou.
O Banco Central interveio na Coroa Brastel, classificando o caso como o maior esquema de fraude financeira do regime militar.
De um dia para o outro, tudo ruiu: Confiança, liquidez, reputações.
A notícia explodiu nos jornais, nos corredores do mercado, nos telefonemas aflitos que começaram a chegar ainda antes do amanhecer.
E eu, com apenas 23 anos, estava no olho desse furacão.
Enquanto Assis Paim enfrentaria a Justiça, eu enfrentava algo muito mais íntimo: O olhar das pessoas que confiaram em mim. Clientes que acreditaram na minha palavra, na minha juventude esforçada, na minha fé ingênua de que trabalhava para um grupo sólido.
E eu, com apenas 23 anos, estava no olho desse furacão.
Enquanto Assis Paim enfrentaria a Justiça, eu enfrentava algo muito mais íntimo: O olhar das pessoas que confiaram em mim. Clientes que acreditaram na minha palavra, na minha juventude esforçada, na minha fé ingênua de que trabalhava para um grupo sólido.
Famílias que colocaram suas economias nas letras de câmbio que eu vendi com a convicção sincera — e que agora viravam pó diante dos meus olhos.
Foi impossível não pensar no meu pai.
Ele viveu o golpe militar. Eu vivia agora um golpe financeiro.
Dois mundos distintos, feridos pela mesma raiz: O poder, quando decide operar sem limites.
Naquela noite, sentado à beira da cama, senti algo mudar, dentro de mim. A linha tênue entre a inocência e a responsabilidade, finalmente, se rompeu.
Foi impossível não pensar no meu pai.
Ele viveu o golpe militar. Eu vivia agora um golpe financeiro.
Dois mundos distintos, feridos pela mesma raiz: O poder, quando decide operar sem limites.
Naquela noite, sentado à beira da cama, senti algo mudar, dentro de mim. A linha tênue entre a inocência e a responsabilidade, finalmente, se rompeu.
Eu não havia causado a fraude, mas estava dentro dela — e as pessoas que confiaram em mim pagariam um preço que jamais esqueceriam.
No próximo artigo, contarei como tentei reconstruir minha carreira depois desse terremoto — e como carreguei, por muito tempo, a culpa silenciosa de quem aprende, do jeito mais duro, que o mercado não perdoa a ingenuidade.
No próximo artigo, contarei como tentei reconstruir minha carreira depois desse terremoto — e como carreguei, por muito tempo, a culpa silenciosa de quem aprende, do jeito mais duro, que o mercado não perdoa a ingenuidade.



