
Por Rogéria Gomes
As mulheres enfrentam preconceitos e cerceamento desde sempre. É fato. Mas fato é também que são destemidas e determinadas. Na maioria das vezes a força e a potencialidade da mulher na vida artística é tão grande quanto desconhecida. São muitos dribles ao longo do tempo para se conquistar um lugar ao sol e permanecer nele. Trazer à lembrança essa força é impactante e necessário. Mulheres a frente de seu tempo que escrevem a história musical brasileira.
O livro ‘”A Mulher na Canção: a composição na era do rádio” traz um recorte importantíssimo de cantoras e compositoras do inicio do século XX, no período 1920 até 1960, com trajetórias riquíssimas, boa parte inclusive com alcance internacional. O livro aborda de forma detalhada a trajetória de compositoras e algumas cantoras, como: Chiquinha Gonzaga, Maysa, Dolores Duran, Tia Ciata, Laura Suarez, Lina Pesce, Carmen Costa, Bidú Reis, Estelinha Egg, entre outras que compõem um time de estelar de extrema relevância. São lembradas artistas de todo Brasil com estilo e propriedades distintas o que é muito enriquecedor para o leitor e ótima ideia da autora. Nomes como Maria Firmina dos Reis que além de compositora foi poeta, professora, escritora e publicou o primeiro romance abolicionista brasileiro, trazendo questionamentos como os valores cristãos evidenciados à época e tão divergente das práticas. É um dos destaques. A autora, Denise Mello é compositora, violista e professora, o que lhe permite um olhar mais apurado e uma escrita pertinente, fluida. Leitura fácil e gostosa. Prende a atenção do leito, que sem perceber segue na leitura. Um feito da autora. A pesquisa é muito bem explorada pela autora e o livro elaborado de forma muita clara, simples, bem feita e atraente, o que é um valor. Apresenta ainda, curiosidades muito bacanas sobre cada artista.
O Brasil é um país artisticamente muito rico, mas também muito esquecido de seus artistas, portanto, trazer essa memória é primordial para nossa cultura. Conhecer a história de compositoras com tanto significado chega à ótima hora, cujo titulo deixará um legado extraordinário e merece destaque.
*Publicação da Machine editora.
“Judy, o Arco-Íris é Aqui”
O livro “Judy, o Arco-Iris é Aqui” se trata do registro do espetáculo homônimo, que obviamente traz à cena a vida de Judy Garland. Sendo assim, falemos primeiro da peça: Flávio Marinho experimentado autor e a atriz Luciana Braga têm uma química especial daquelas que não se encontra facilmente. Já foram testados outras vezes, com sucesso. Desta vez não é diferente. Mas há algo a mais no encontro e no texto. A escolha não convencional da escrita já é marca de Flávio e neste texto ele propõe um encontro inimaginável, só possível mesmo no teatro. Compreendido quando assistimos ao espetáculo ou lemos o livro. O autor nos traz o melhor da vida de Judy Garland, o que significa dizer, que a apresenta para além da artista universalmente conhecida. No palco, além da artista que arrebatou o mundo com seu inigualável talento aparece na mesma proporção o humano. Ali palpável. Segue em paralelo entrelaçando essa história o percurso artístico e pessoal de Luciana Braga, que consegue magistralmente entretecer essas histórias. Eis a magia do teatro ao vivo, diante de nossos olhos. Judy e Luciana no mesmo contexto: artistas e humanas. Esse fascinante encontro é embalado por uma atriz que canta lindamente acompanhada por músicos experientes e com categoria. Tudo contribui a favor na encenação, mas sem dúvida, se pode constatar uma atriz em estado de graça.
O livro retrata esse texto feliz de Flavio Marinho e merece destaque pela carpintaria exemplar do texto, acabamento e cuidado editorial, mas sobretudo, pelo registro da memória de uma atriz que se reinventou, encantou o mundo, e de outra, que em cena nos embarca para além do arco-íris.
*Publicação da editora Imago