
Estou escrevendo nessa sexta-feira, 13. E como dizem por aí: sabe o que significa isso? Nada. Apenas que amanhã será sábado, 14.
No meu caso específico, 13 de janeiro é uma data triste. É a data de morte da Dona Stella, minha mãe. Faz 28 anos e era, como hoje, uma sexta-feira, 13.
Diferentemente de hoje, onde o Sol resolveu aparecer no Rio, naquela sexta, 13, em 1995, chovia absurdamente em São Paulo. Absurdamente.
Minha mãe morreu de forma precoce, aos 66. De susto. E é uma forma bem curiosa para se morrer numa sexta 13:- a forte chuva causou inundação, desabamento e quase matou grande parte da minha família. Isso tudo destruiu parte da casa dos meus pais, a mesma casa onde cresci. Dona Stella, apesar de ser resgatada com vida, tomou um susto tão absurdo que sucumbiu, na calçada, aos pés da minha irmã. Tragédia, tragédia.
Eu e meus irmãos sempre lembramos dela com um sorriso e saudade.
Dona Stella era uma mulher simples. E era justamente essa simplicidade que fazia dela uma pessoa sofisticada e direta. Além de cozinhar bem quando desejava, Dona Stella sempre foi direta na educação dos filhos. Havia muito carinho, mas não éramos tratados como bibelôs.
Eu ainda dividia o quarto com meu irmão mais velho e a Dona Stella anunciou com clareza:
– Esse quarto é de vocês. Eu não entro mais aí. A responsabilidade é toda de vocês dois. Se houver roupa para lavar, coloquem aqui do lado da porta. Eu lavo. As vassouras estão ali. É só pegar e varrer, passar pano, cuidar do que acharem necessário.
E finalizou:
– Eu não entro mais aí. Vocês podem criar jacarés aí dentro. Eu não entro mais.
Ela foi cuidar de todo o resto e não falou nunca mais no assunto.
Claro que dias depois, a gente perguntava:
– Mãe! Cadê aquela camisa azul?
Ela respondia com calma, sem deixar de fazer o que estava fazendo:
– Você colocou para lavar como combinamos? Se colocou, está lavada. Se não colocou, a camisa vai estar exatamente onde você deixou. Procura aí.
Ela não respondia a nenhuma argumentação a respeito. Apenas ignorava. E a vida seguia. Sem camisa azul e sem muito drama.
Quando sai de casa, ainda novinho, 18, 19 anos, voltei alguns dias depois com um saco de roupas.
Ela me beijou, sorriu, devolveu o saco em meus braços e disse, carinhosamente:
– Zé, (sempre fui Zé na primeira infância. Pra minha mãe, fui Zé o tempo todo). Zé, meu filho, você não mora mais aqui. Vai ter que arrumar outro lugar pra lavar suas roupas.
Dona Stella me beijou e me mandou embora. Simples, simples.
Diferentemente da sexta 13 que matou a Dona Stella, hoje o Rio de Janeiro está iluminado por um sol que demorou a chegar. Tomara que esse sol nos aqueça a todos, trazendo boas energias e, ao menos, pequenas doses de felicidade.
Here comes de sun, Dona Stella.