JP – Como se deu a sua escolha pela cirurgia plástica?
Desde a época de acadêmico, e os acadêmicos do Rio de Janeiro têm o hábito de fazer plantões nos hospitais públicos da SUSEME (Superintendência dos Serviços Médicos) que atendem a população e concede uma bolsa aos médicos estudantes. É uma forma do poder público obter mão-de-obra mais barata e prestar o serviço â população. Então, desde essa época que eu trabalhava no Hospital Getúlio Vargas, todos os médicos já me cumprimentavam pelos caprichos que eu tinha em fazer suturas, que eu fazia com muitos detalhes, cuidado. Então, eu já tinha uma preocupação estética com relação à cirurgia. Então, vem daí a minha opção pela cirurgia plástica.
JP – Como é o método revolucionário que implantou no Brasil sobre a plástica de face?
Isso vem evoluindo desde a minha formação no professor Pitanguy. Eu conversava muito com as mulheres operadas. Elas diziam que a pessoa ficava com a face meio plastificada, meio artificial, com a pele brilhosa. E, eu ao longo dos anos, tenho quarenta e tantos anos de cirurgia plástica, aquilo não me agradava. Eu comecei a entender que o descolamento da pele. Porque o método tradicional ele descola a pele toda e puxa. Eu comecei a entender que esse método desvitalizava a pele. A pele ficava mortiça, com um aspecto artificial. Aí eu bolei uma maneira de poder mobilizar a pele para poder puxar e ressecar o excesso. Mas sem cortar os vasos que ficam por baixo da pele, sem descolar a pele. Vou explicar de uma forma mais leiga. A pele tem conexões com o plano profundo muscular. São vasos que ligam para nutrir a pele. Só que quando você faz plástica, você corta esse vasos e a pele fica meio mortiço, desvitalizado. De maneira que esse método que eu bolei tem os mesmos resultados, só que com a pele eutrófica. Eu significa bom. E trófico vem de trophei quer dizer nutrição.
JP – Comente sobre o livro que vai lançar.
Todo médico tem uma vontade interior de deixar escrito a sua experiência, o que faz, o que eu faço do ponto de vista técnico. Já tenho dezenas de trabalhos publicados em dezenas de livros e revistas. De forma que eu tive vontade de escrever sobre a minha experiência de consultório, como eu vivo, o contato com o paciente, as dificuldades, como eles enxergam, o resultado, como eu enxergo. O livro mostra uma experiência incerta com o paciente, o leitor leigo ou também o cirurgião plástico que está recém formado, e que necessita de mais informações.
JP – Quais são os principais desafios da cirurgia plástica no Brasil?
A cirurgia plástica no Brasil é uma cirurgia privilegiada, porque o cirurgião brasileiro é muito festejado lá fora. Todas as vezes que eu viajo, ele se referem a mim como um cirurgião plástico brasileiro. Tem muito nome a cirurgia plástica lá fora. Quem começou toda essa propaganda foi o Ivo Pitanguy. E, nós que viemos como aluno dele, vamos levar essa bola para frente, fazendo congressos, participando, criando técnicas. Hoje em dia a cirurgia plástica brasileira sofreu um processo de “democratização”, ou seja, quando eu comecei a fazer a plástica era uma operação mais de elite. Só o cara classe AA tinha acesso à operação. Hoje não. Até mesmo as classes menos favorecidas têm acesso. Tem médicos que realizam o procedimento por preços mais accessíveis. Tem um grande número de médicos fazendo. Temos também que chamar a atenção da invasão da especialidade por outros médicos e não médicos, como é o caso dos dentistas, que fazem a operação com resultados deploráveis, lamentáveis, acabam mutilando os pacientes, e acabam por tornar à mão do cirurgião plástico novamente. Então, aquele lema famoso, essa é uma dificuldade da plástica. Plástica e com o cirurgião plástico. Não pode fazer plástica com médico que não é especialista, que não é da especialidade. Para isso tem que ver se ele é filiado à Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, com o MEC. E não pode ser não médico. Porque aquele que faz um procedimento médico, ele tem que saber tratar caso haja alguma complicação. O dentista, o biólogo, o farmacêutico, o enfermeiro, não são médicos. Então, não podem fazer cirurgia plástica.
JP – O que gosta de fazer no seu tempo livre?
Gosto de aviação. Sou piloto privado. Voo sempre que posso. E pratico tênis.
JP – Quais são seus projetos futuros?
Divulgar essa técnica nova da rinoplastia eutrófica. Esse trabalho já foi apresentado quarenta e quatro vezes, inclusive no Brasil e no exterior.
JP – Uma frase preferida de Marcelo Daher.
Aprenda como se fosse viver para sempre, viva como se fosse morrer amanhã.