
Meu entrevistado dessa semana é o ator e autor de peças teatrais e escritor o Cacau Hygino. Em.nosso bate-papo em fala sobre a descoberta das artes cênicas, das técnicas para escrever e muito mais. Confira!
JP – Cacau, você é carioca. Como foi a sua infância na cidade do RJ? Onde você estudou?
Sou carioca, nascido na Glória na Beneficência Portuguesa. Minha infância até os nove anos foi no Méier. Morava em frente ao Imperator na época era cinema ainda. Assisti Xanadu, Tubarão, Nos Tempos da Brilhantina… estudei meu primário no Colégio Metropolitano, onde estudavam Adriana Esteves e Tais Araujo. Meu vizinho de cima na cobertura era nada mais, nada menos, que o cantor e compositor João Nogueira Todas as sextas feiras, ele fazia uma roda de samba na cobertura do prédio e cansei de encontrar com Clara Nunes Clementina de Jesus, Alcione, Arlindo Cruz, Pixinguinha, Paulinho da Viola, Cartola, Jorge Aragão … Nossa, e eu nem dava importância! Anos depois que me toquei com isso! A nata do samba passava a mão na minha cabeça e até presente de Clementina de Jesus eu ganhei! No final de 1979 mudamos para a Tijuca e estudei no Colégio Marista São José até o segundo grau. E lá estudou comigo Flavia Monteiro, minha amiga até hoje. No curso de inglês que eu estudava na Conde de Bonfim ainda tinha na minha turma a Flavia Alessandra. Você vê, eu já era cercado de artistas!
JP – Como se deu o seu interesse pelas artes cênicas? Onde você se formou?
Eu amava assistir o Globinho com Paula Saldanha na Globo. Todos os dias às 11h da manhã. Um belo dia, ela anunciou um teste para o Pedrinho do Sítio do Pica Pau Amarelo. Fiquei louco! Pedi pra minha mãe me inscrever. Ela me inscreveu? Não, claro! Aí fiquei com aquilo na cabeça, eu queria trabalhar na televisão, no teatro. Não me pergunte o porquê, só sei que queria. Aí descobri um curso de Teatro da Arlete Ribeiro Produções Infantis em Botafogo. Lembra da Arlete Ribeiro? Ela foi uma apresentadora da TV Tupi. Lá comecei a fazer aulas de teatro. Na turma só eu e uma menina. Mas eu queria mais. Logo depois fui estudar com Rosane Goffman no Colégio Scholem Aleichem, na Tijuca. Lá estudei com Claudia Rodrigues que se tornou uma grande amiga minha e até uma peça protagonizamos juntos que foi “Fofíssimas Ladies Show”, de Regiana Antonini. Do Scholem fui para o Tablado, onde estudei por sete anos. E, depois fui estudar na Cal – Casa das Artes de Laranjeiras. Paralelo a isso tudo fui estudar jornalismo na Faculdade da Cidade, mas não concluí. Abracei a arte! Na verdade, me formei na vida. No Tablado fiz várias peças e um belo dia fiz uma participação num Você Decide chamado O Filho da Outra, com René de Vielmond e Mauro Mendonça. Ali tirei meu registro como ator.
JP – Como você define um texto de teatro? Quais são as suas principais características?
Um olhar sobre algo da vida em que damos uma dimensão maior no palco para que as pessoas questionem e discutam. Sempre visando colaborar com a alma humana. Ele tem que ter emoção, alegria drama e questionamentos. Assim a gente constrói uma dramaturgia teatral.
JP – Quando você redige um texto de teatro, você já escreve pensando num determinado ator ou atriz?
Sempre! Só sei escrever pensando quem vai ser o ator. Facilita minha visão sobre a personagem e a embocadura do texto. Eu tenho que visualizar quem vai ler ou falar aquele texto. E sempre dá certo. Na hora que o ator lê ele sempre acaba lendo bem já que foi pensado nele para o personagem da peça.
JP – Além de textos teatrais, você também produz outros tipos de textos. Como por exemplo, as biografias de Zezé Mota, Irene Ravache, Nicete Bruno, entre outras. Ao escrever essas obras, qual é o tipo de narrativa biográfica que você privilegia? Uma análise linear, cronlógica, factual, ou uma mais crítica, que busca contextualizar a trajetória de vida do artista?
Olha, não penso nessas coisas. Eu me sento com a biografada e deixo fluir O caminho vai se tornando natural. Ás vezes cronológica, às vezes factual, enfim. Deixo que tudo seja conduzido livremente. Depende do retorno do biografado, como ele conduz sua história nas entrevistas.
JP – No âmbito literário, você escreveu Nós e Nossos Cães. Como surgiu o projeto desse livro?
Ele surgiu depois que lancei o meu primeiro livro chamado Mulheres Fora de Cena, um dos maiores sucessos da Editora Globo até hoje. A maior mídia já vista na imprensa em cima de um livro! Depois desse livro, eles sabiam que eu amava animais e me convidaram para escrever esse livro, que foi outro grande sucesso!
JP – No meio artístico ainda se comenta e cita muito sobre as grandes referências como Fernanda Montenegro, Lima Duarte, entre outros, astros que têm uma vasta experiência, mas já apresentam uma idade avançada. Está tendo renovação no meio artístico? Como equalizar os iniciantes com aqueles com uma longa trajetória?
Não tem, infelizmente! Existem grandes jovens atores, mas hoje eles fazem uma novela e já ficam famosos. Se fizerem sucesso, ganham rios de dinheiro e nunca ousam ralar no teatro, a grande escola do ator. Se não dão certo, ficam deprimidos e somem do mercado. É tudo muito cruel! Esses grandes medalhões, que fizeram a história de nossa arte, ralaram muito. Produziam suas próprias peças, trabalharam em companhias de teatro, estudaram com grandes mestres, colocaram a mão na massa! Não ficavam só de lindos! Até pintar cenário, pintavam! A diferença é essa! Eles se tornaram o que se tornaram, porque não foram reféns da TV, e sim priorizaram a arte. Quando outro dia eu vi uma atriz jovem sendo entrevistada para falar como ela se sentia trabalhando com Fernanda Montenegro, e ela respondeu “Não sei muito da carreira dela, mas estou gostando!” Como assim? Por mais que ela seja de outra geração, ela não sabe ou não se interessa em saber quem é a grande estrela que contracena com ela? Ou seja, essa juventude não sabe nada, joga tudo no ralo. Só querem ficar famosas e ganharem dinheiro. Preferem postar fotos com marquinha de biquini no Instagram do que estudar com algum preparador. Esses jovens não têm inteligência, pois enquanto estão jovens tudo bem, mas vão envelhecer. Beleza não segura talento! Se não tiverem bagagem e estudo, elas morrem na praia e acabam todas na Tarja Preta. Triste!
JP – Vocé também já atuou em novelas da Rede Globo como, por exemplo, Negócio da China, Caminho das Índias, entre outros. Comente sobre essa experiência.
Sim! Fiz muita coisa! SOS EMERGÊNCIA, AMÉRICA, DERCY DE VERDADE, INSENSATO CORAÇÃO, VIDA DA GENTE, AMAZÔNIA, etc.. Amei essa experiência, e hoje está no ar a novela PARAÌSO TROPICAL, de Gilberto Braga, que fiz em 2007. Eu era um bebê de Rosemary! Kkkkk, mas amo! Na verdade, amo TV! Sempre quis ser um ator de TV e a vida me conduziu para outro lugar! Continuo atuando em coisas especiais, como no filme LUCICREIDE VAI PRA MARTE, da Globo Filmes, que fiz ao lado de Fabiana Karla. Filmamos em Recife, Las Vegas, Orlando e Rio de Janeiro. Fizemos o vôo gravidade zero! Uma experiência incrível! Ele está na Globoplay, no Telecine, e há pouco passou na Sessão da Tarde. Devemos fazer o dois que será gravado na Itália, mas ainda não sei quando. Eu priorizo a escrita hoje, mas não descarto de atuar em coisas que me encantem.
JP – Você escreveu uma peça de teatro sobre as cartas de amor trocadas pelo cantor e compositor Herivelto Martins e a sua segunda esposa, uma comissária de bordo. A peça foi encenada em dois momentos por excelentes atrizes, Marília Pêra, e Totia Meireles. Como foi produzir um texto de teatro a partir do conjunto de correspondências entre os dois personagens?
Olha, foi tranquilo! Lidei com uma história real, eu tinha documentos reais que eram as cartas que achei dentro de um baú, na casa de Yaçanã Martins, filha de Herivelto. Então foi mais fácil escrever esse espetáculo. A diferença do texto ficou por conta da interpretação das atrizes, ambas fazendo maravilhosamente bem. Marília dava um tom mais formal ao espetáculo, e Totia um tom mais popular. Foi sensacional por parte de ambas! E ainda não acabou, pois em 2024, Totia voltará com ele nos palcos brasileiros.
JP – Quais são os seus projetos futuros? E, para finalizar, deixa um recado para os atores e atrizes desse Brasil.
Bom, agora acabou de estrear uma peça minha chamada A VEDETE DO BRASIL, um musical brasileiro que conta a história de Virginia Lane. Tem no elenco Suely Franco, Flavia Monteiro, e Bela Quadros, com uma direção impecável de Claudia Neto, que também dirigiu Herivelto Como Conheci, com Totia. Ela realmente descobriu um novo lugar que é a direção! Claudia promete. Está em cartaz até final de Janeiro no Copacabana Palace, depois vamos para SP e Minas. Produção da WB produções. Vou escrever um livro sobre moda com Karen Brustolin, figurinista, inclusive da minha peça. O livro sairá pela Editora Letramento. Tenho ainda um Podcast que vou apresentar e mais duas peças que estou escrevendo. E acabamos de gravar a serie BODY BY BETH, protagonizada por Marisa Orth, criada por Carol Castro e produzida pela Migdal Filmes. Fiz parte da equipe de roteiristas! A série está incrível, e será lançada no ano que vem!