
Apesar de inúmeras observações críticas à quantidade de remakes de novelas da Rede Globo nos últimos anos, diversos títulos ainda reverberam na cabeça do público, décadas após seus lançamentos. Marcos da TV que valem muito a pena ver de novo e que, de fato, merecem releituras e homenagens. O recente e, nem um pouco surpreendente, sucesso de Pantanal (2022) abriu caminho para estreitar ainda mais a relação de texto e fotografia cinematográfica com as telenovelas. Apontar um estilo comum à sétima arte em produções da teledramaturgia não é novidade. E vez ou outra o público é presenteado com essas duas formas de olhar mostrando juntas uma história inesquecível.
Renascer volta à TV brasileira adaptada pelo talentoso Bruno Luperi, neto do genial Benedito Ruy Barbosa. Após recontar a história pantaneira escrita pelo avô há mais de três décadas, o jovem autor agora se volta aos arredores de Ilhéus, apresentando a saga do coronel que fincou seu destino numa terra que mudou a vida de muita gente.
Luperi mais do que ressignifica as tantas tramas que preenchem esse clássico. Adapta com conforto e abre ainda mais essa história de personagens intensos e universais. Entre o tanto a se empolgar depois de treze capítulos está o tempo dado à primeira fase da novela, que carrega muito da essência do icônico José Inocêncio (Humberto Carrão / Marcos Palmeira). Sua lenda, suas desavenças e ascensão num dia a dia medido pelo cacau, passando pelo encontro com o grande amor de sua vida. Suas perdas, filhos, amigos ganham mais espaço para elaboração, adicionando muito a uma história de reviravoltas impactantes. A primeira versão trabalhou esse período em cinco capítulos e nesse ciclo inicial mais longo, o espectador tem a oportunidade de se aprofundar nos arcos de diversos outros tipos, muito bem introduzidos. Ao fim dessa fase, reverência-se às marcantes interpretações de um elenco diverso e absurdamente talentoso, que se despede em sua grande maioria.
Os novos dias em Renascer começam com o excelente aproveitamento do tempo em cada episódio. E seguindo apresentando transições emocionantes. Tudo feito até aqui pavimentou, com muito bom gosto, um futuro entusiasmante para os próximos capítulos.