
por Alex Cabral Silva
Por mais de cento e cinquenta anos o tênis nunca esteve imune à discussão sobre quem é o melhor de todos os tempos. Através de suas diferentes eras, diversos nomes se imortalizaram por seus feitos, reinventando o jogo e apontando uma nova direção para a modalidade. Há pouco mais de vinte e seis anos, o circuito profissional descobriu um talento que se mostrava promissor desde a categoria juvenil. Roger Federer nunca disse que se achava o melhor. Tampouco agiu como se fosse o maior jogador da história no decorrer de mais de duas décadas em que predominou no topo do ranking da ATP. Suas conquistas impressionantes ao longo de sua impecável carreira o imortalizaram graças a um estilo de jogo que equilibrava o clássico com o chamado tênis moderno. Segundo John McEnroe, sua elegância ao se mover fizeram dele um Baryshnikov das quadras de tênis. Alguns de seus recordes já foram ultrapassados por outros jogadores que o desafiaram e contribuíram para que o atleta da Basileia presenteasse o mundo com jogadas inesquecíveis em partidas épicas. É fato que, o detentor de 20 títulos de grand slam, redefiniu esse esporte.
Às vésperas de sua última partida como jogador profissional, a intimidade de sua família e a expectativa para esse momento definidor, são apresentadas no documentário Federer: Doze Últimos Dias (Prime Video). O que originalmente foi pensado como um registro caseiro, pessoal, do anúncio de sua aposentadoria, se transformou numa produção especial e repleta de lembranças de alguns fatos que marcaram mais do que a vida de Roger. Asif Kapadia e Joe Sabia reportam os dias e minutos que antecederam esse momento emocionante de maneira graciosa. Preparando aos poucos os espectadores para o último ponto da carreira profissional de Federer. Ao lado de rivais e amigos que jogaram juntos e choraram juntos ao fim, tudo o que o tenista quis destacar de mais relevante em sua vida, encontra lugar na linha do tempo traçada por um roteiro que não desvia da intenção inicial do projeto. Contar como ele anunciou que iria parar, o que de fato o levou a tomar essa decisão e como isso impactou todos a sua volta, não sai do centro da história. A calmaria antes da tempestade no aguardo do que viria depois de lançar a notícia oficialmente e os preparativos para a partida final em Londres são pontos altos nos bastidores deste evento. Ouvir Federer falar e admitir pensamentos que teve a respeito de jogos e sobre o momento de encerrar a carreira, a vontade e franco, de certa forma, consola os fãs. A última dança, uma partida de duplas ao lado de Rafael Nadal, seu maior rival, desidratou todos que amam esse esporte e expôs mais um capítulo do respeito que o espanhol tem pelo suíço. A emoção do público e de todos na quadra, ao fim, marcou aquele 23 de setembro de 2022, como uma das datas mais inesquecíveis da história do esporte.
O antes e o depois no vestiário e a gratidão de Roger a todos os companheiros que fizeram parte daquele momento, mostra alguns dos principais nomes da modalidade em seu habitat natural, nos bastidores de um acontecimento intenso, também para as suas carreiras.
A dupla de diretores que tem no currículo documentários como Senna e Amy, acerta no tom e atinge mais do que os fãs. Provocam o público distante desse esporte a olhar o fim da carreira de uma lenda que nunca perdeu a oportunidade de lembrar que nenhum nome está acima do tênis.