
Estreou a peça teatral Do Que São Feitas as Estrelas? no teatro Sesc Tijuca.
A concepção é de Luiza Moreira Salles.
O texto é poético, lúdico, mescla realidade e imaginação, apresenta uma linguagem voltada para o universo infanto-juvenil, realiza uma reflexão sobre a relação ciência e gênero, e se constitui como um importante elemento de popularização da ciência.
O texto de autoria de Sofia Fransolin nos apresenta a trajetória da cientista britânica Cecilia Payne-Gaposchkin (1900-1979)
e a sua contribuição para a produção do conhecimento no campo da astrofísica.
Associada à história real, biográfica, a autora narra uma aventura espacial, a da Guerreira Cecilia, que vai numa expedição descobrir o segredo do Sol, nossa principal estrela, deixando as crianças imaginar uma viagem pelo infinito universo. O texto mescla realidade e fantasia, narrando assim, de forma conjunta, duas historias.
A dramaturgia nos apresenta a luta e o esforço de Cecilia para se tornar uma cientista. E mostra que não foi fácil! Ela teve que superar barreiras e enfrentar o universo masculino, dominante nas universidades e nos institutos de pesquisa no início do século XX para poder vencer. A caminhada foi árdua, dura, teve tensões, conflitos e discriminação. Mas, ela não se deu por vencida. Resistiu!
Cecilia desde menina buscava explicações. Fosse em casa ou na escola, ela queria uma explicação para os por quês. Deixava louco a todos!
Com seu espírito inquieto e questionador, conseguiu ingressar no curso universitário. Ela se formou em astrofísica na universidade de Cambridge. E, ao concluir, o diretor da instituição não queria homologar o seu diploma e o das outras colegas concluintes. Olha a discriminação!
Mas, Cecilia não se deu por vencida. Do outro lado do oceano, em Harvard, nos EUA, surgiu uma oportunidade, local onde se admitiam mulheres. E lá foi ela no ímpeto de se tornar uma cientista reconhecida e visível.
E quem pensou que fosse ser fácil, se enganou! Ela ingressou em Harvard, no laboratório de astrofísica, onde começou a realizar pesquisas sobre as estrelas, especificamente sobre a composição química desses elementos celestes. Ela realizou descobertas. Mas seu orientador não deixou ela publicar as investigações, condição para a mesma permanecer no laboratório. Passados alguns anos, num ato de leviandade e machismo, ele apresentou as descobertas científicas de Cecilia como se fossem de sua autoria. Uma passagem do texto da peça ilustra bem essa atitude desrespeitosa, machista e preconceituosa: “O mundo está empoeirado. Poeira, cinza e grossa.”
Cecilia não desistiu. Ela deu continuidade ao seu trabalho científico. E, graças a sua persistência e competência, ela se tornou professora, e, tempos mais tarde, diretora.
As pesquisas de Cecilia foram no campo da astrofísica. Ela estudava as estrelas, e queria descobrir a composição química das mesmas. Ela olhava com carinho e cuidado para a luz das estrelas. E observou que as estrelas não são feitas da mesma matéria que os planetas. Ela descobriu que os gases Hidrogênio e Hélio são os elementos que as constituem, elementos leves. Observou também que elas geram combustão, e explodem gerando luz, calor e outras fontes de energia.
Cecilia se tornou uma cientista reconhecida no mundo todo. E sua trajetória de vida pode ser compartilhada por país e filhos, servindo como um exemplo. Ela lutou para ingressar no mundo universitário, e levantou e defendeu a bandeira de que o conhecimento è livre para todos os povos do planeta.
O elenco é composto por três atores: Carolina Fabri, Diego Chilio, e Luiza Moreira Salles. Eles estão em sintonia, afinação, e harmonia. Apresentam uma boa atuação, mesclando a técnica interpretativa com a emoção. Eles passam o texto com segurança e firmeza, dialogam com o público presente, e se movimentam intensamente por aquela ribalta. Interpretam a história com emoção, mostrando o quão difícil foi para Cecilia conseguir alcançar o sonho de ser cientista.
A direção é de Kiko Marques, que realizou as marcações precisas e corretas, e direcionou os atores para realizar as suas interpretações, numa atuação que une interpretação e emoção.
A direção de Movimento é de Bruna Longo, que conseguiu imprimir um dinamismo ao espetáculo, e uma intensa movimentação nos atores, que dominam todos os espaços da ribalta.
Os figurinos foram criados por Victor Paula, apresentando criações de bom gosto, que facilitam a movimentação dos atores, e adequados ao contexto do espetáculo.
A cenografia foi criada por Zé Valdir, que se caracteriza por ser original, arrojada e adequada. No centro do palco há uma estrutura circular metálica, por onde circulam um carrinho com rodas, bastante utilizado pelos atores, um retroprojetor de imagens, e uma tela de projeções. Nesta são exibidas imagens que auxiliam a narrativa do texto.
A Iluminação criada por Danielle Meireles apresenta um bonito desenho de luz, e contribui para realçar a interpretação dos atores.
Do Que São Feitas as Estrelas? é um texto infanto-juvenil que associa a historia real da cientista Cecilia Payne-Gaposchkin com uma lúdica viagem intergaláctica; apresenta um elenco que tem uma boa atuação, mesclando interpretação e emoção; e, figurinos e cenografia de bom gosto e adequados.
Excelente produção cênica!
Foto Fábio Salles