Em tempos de Bienal do Livro, vamos falar um pouco sobre literatura e sobre os novos talentos que surgem nas diversas áreas literárias. Hoje a minha convidada é Bruna Paiva! Escritora carioca, nascida em 1998, formada em Letras pela UNIRIO e doutoranda e mestre em Ciência da Literatura pela UFRJ. Pós-graduanda em Edição e Gestão Editorial, que publica os próprios livros de maneira independente desde 2018.
Bruna Paiva tem um trabalho sobretudo voltado para o público jovem, focando em incentivar nos leitores o início da jornada de paixão pelos livros. Publicou “Um Diário Para Alice”, livro multimídia, como webnovela em 2014 em seu blog pessoal (Adolescente Demais) e no Wattpad, onde teve mais de 70 mil leituras. Quatro anos depois lançou a versão física do mesmo livro, que já foi adotado 6 vezes como paradidático por escolas, foi esgotado na Bienal de São Paulo de 2022 e chegou a sua segunda edição em 2023.
No primeiro Carnaval pós pandemia, publicou o projeto “Amores de Carnaval”, um livro dois em um, com dois romances que começam nos blocos de Carnaval do Rio de Janeiro. Como ação de lançamento, Bruna levou seus livros para as ruas e divulgou seu trabalho no meio da folia carioca.
Mais recentemente lançou o romance, “Fã de Carteirinha” explorando um romance entre fã e ídolo, inspirado nas próprias aventuras de fã. O livro conta ainda com uma trilha sonora exclusiva composta especialmente para o livro pelo cantor Tê Paiva.
Um bate-papo delicioso com essa jovem talentosíssima. Confira!
JP – Olá Bruna! Você poderia comentar sobre o lançamento do seu terceiro livro Fã de Carteirinha?
Oi, Chico. Fã de Carteirinha, apesar de ser o meu terceiro livro publicado, foi o primeiro livro que comecei a rascunhar na vida. Então, ver essa obra finalmente publicada e conquistando leitores por aí é muito gratificante. Dá um senso de dever cumprido e de que estou trilhando o caminho que sonhei. Essa foi uma história que escrevi inspirada nas aventuras de fã que vivi na adolescência e juventude. É um livro com muito realismo e sentimento… É um livro para viver por meio da protagonista, o sonho do romance com um ídolo… E assim como em minhas obras anteriores procurei inserir neste novo livro um recurso interativo, com uma música real composta especialmente para a história.
JP – O que significa a expressão escritora independente?
Escritor independente é aquele que não tem uma editora ou empresa investindo em seu trabalho. Faço toda a produção dos meus livros sozinha, desde a escrita até o processo de coordenação editorial, contratando prestadores de serviço como revisor, designer, fechando com gráficas e gerenciando o marketing para divulgar as obras. Hoje a autopublicação é um modelo de negócio que cresce muito no Brasil e ajuda a democratizar a produção de literatura. Muitos autores veem nesse modelo de negócio a chance de começar uma carreira sem depender de alguém que “descubra” seu talento.
JP – Quando despertou em você o interesse em ser escritora?
Comecei a escrever aos 13 anos, com um coração partido e a cabeça confusa. Sempre gostei de ler, então, quando precisei me entender, a escrita pareceu o caminho mais lógico. Dali foram diários, posts em blogs, redes sociais… Com o tempo fui tomando gosto pela coisa e aos 15 anos comecei a de fato considerar a possibilidade de levar a escrita como carreira. Queria provocar nos leitores sensações e reflexões que meus autores preferidos me provocavam.
JP – Quais são as suas referencias (teóricas e práticas) no campo da escrita?
Sou mestre e doutoranda em ciência da Literatura, de modo que estudo muita teoria literária, mas gosto de ler de tudo. Acho que o escritor precisa ser um leitor completo, ler aquilo que escreve e também o que não tem interesse em escrever. Quanto mais se conhece, mais atento fica o olhar. Estou sempre em movimento com minhas referências de técnica e também da prática literária. Tenho me envolvido muito com a literatura nacional contemporânea. Gosto muito de Carla Madeira, José Faleiro, Ana Kiffer…
Num sentido de referência de carreira literária, acho que a Thalita Rebouças é quem mais me influencia. A forma de se comunicar com os jovens, passar a mensagem e se posicionar no mercado, foi o que me conquistou como leitora na adolescência e é o norte que sigo como escritora hoje.
JP – Qual é o seu gênero literário preferido? Justifique.
Como disse, leio de tudo. Mas o que mais me envolve são romances dramáticos. Acho que sou um pouco dramática por minha conta, os livros que abordam os dramas comuns da vida humana, questões sociais, familiares e psíquicas são os meus preferidos. Acho que esse tipo de livro deixa uma marca na gente, faz as coisas ressoarem por dias na cabeça…
JP – Qual é o público principal dos seus livros?
O meu público principal é o adolescente. Essa fase da vida tão complicada em que a gente não se sente muito pertencente a nada. Não é mais criança mas também não é adulto o suficiente. É tanta coisa que acontece na cabeça e no corpo de um adolescente. Foi a época da vida em que mais me senti sozinha, e ter um livro sempre na mão me ajudou a me entender e formar minha personalidade. Então, como escritora, busco dar aos jovens essa mão, essa esperança de que não estão sozinhos no mundo e a possibilidade de mergulhar numa história e ver seus dramas ali representados.
JP – Você concorda com a afirmação: “Livros Servem Para a Instrução”? Justifique.
É inegável que os livros servem para a instrução e minha trajetória acadêmica é prova disso. Mas sou profundamente contra a posição de que os livros sirvam apenas a esse fim. Colocar no livro um papel unicamente didático ou moralizante não é justo nem inteligente. Afinal, a leitura pode e deve ser prazerosa, principalmente quando se está formando um leitor. A partir de um livro que pode parecer “bobo” a olhos externos, acaba-se trabalhando a empatia, conhecendo novas culturas ou entrando em contato com dilemas distantes da realidade em que se vive…
JP – No seu ponto de vista, qual é a importância da leitura para a formação de um indivíduo?
Para além do que pode parecer óbvio, que é o aprimoramento das capacidades de comunicação, interpretação e escrita. A leitura nos permite vivenciar contextos diferentes daquele que vivemos. Sejam eles fantásticos ou profundamente realistas, essa possibilidade é a chave para se exercitar uma visão de mundo ampla, que olhe para além do próprio umbigo. E essa habilidade de enxergar a vida em nuances forma cidadãos mais preparados para viver em sociedade, exercer a cidadania respeitando as diferenças e sabendo se relacionar com o próximo.
JP – Quais são os seus projetos futuros?
Participar da Bienal do Rio, em junho, pela primeira vez com um estande meu como autora independente autopublicada é o meu maior foco do ano e um marco para meus 10 anos de carreira. Além disso pretendo me manter trabalhando com o público jovem, formando novos leitores e escrevendo histórias que lhes proporcionem identificação e acolhimento. Tenho dois romances prontos para serem publicados em breve. Um se passa no universo da dança com festivais e escolas de ballet, e o outro é um romance LGBT ambientado em 2009, na zona norte carioca. Além disso, ainda esse ano, lanço um curso para ajudar autores que queiram publicar de forma independente a entrar nesse mercado de maneira profissional.